No início, quando o Bonner começou a orientar as pessoas a gravarem com o celular "deitado na horizontal", achei aquilo uma chatice. Todo dia a mesma coisa. Além do mais, por que haveria de me interessar a respeito do que o dono de uma ferragem do interior do Piauí quer para o Brasil?
Francamente.
O Brasil que eu quero tem, atrás de cada celular na horizontal, um eleitor que sabe o que quer.
Então, após algum tempo, os depoimentos dos telespectadores foram sendo reproduzidos nos jornais da Globo e passei a prestar atenção, primeiro distraidamente, depois atentamente. O que de fato me interessou, mais do que O QUE eles falavam, era DE ONDE falavam. Em geral, cidadezinhas que nem sabia que existiam e que me faziam ficar especulando. Como será a vida em Barão de Melgaço, incrustada nos intestinos do Mato Grosso? Quem terá sido esse barão? O que terá ele feito de bom para merecer tamanha homenagem?
O Brasil é tão grande, tão variado, há tantos mundos dentro de um só país. Mas como os problemas são parecidos.
Foi essa constatação, da semelhança dos problemas, apesar da diferença das distâncias, que me motivou a ouvir com um pouco mais de critério a breve fala dos meus conterrâneos. A corrupção e as obras inacabadas incomodam de Norte a Sul, percebe-se. E, outro dia, um senhorzinho de algum lugar remoto, cujo nome esqueci, resumiu como deve ser um país que trata bem seus cidadãos. À sua maneira, ele disse que o Estado tem de se ocupar prioritariamente de três áreas. As seguintes:
1. A criança.
Uma nação se forma a partir de duas instituições: a família e a escola. O Estado precisa garantir boas escolas públicas, com boa estrutura e bons professores. Ao mesmo tempo, o Estado precisa assegurar saúde à criança, e não apenas saúde preventiva.
2. Segurança.
Se houver segurança, o cidadão gasta menos e pode mais. A cidade é do cidadão. Ele não apenas habita a cidade, ele a usufrui e, por consequência, a transforma.
3. Emprego.
Com um mercado aquecido, o trabalhador perde o emprego aqui e arruma outro ali na esquina. Nenhum conjunto de leis protege mais o trabalhador do que a fartura de ofertas de emprego.
E pronto. Um país que atende a essas três áreas atende à necessidade básica. Se as pessoas tiverem trabalho, se os filhos delas tiverem saúde e boa educação, se elas tiverem segurança para caminhar pelas ruas de mão no bolso ou falando ao celular, para sentar em um banco de praça sem ter de olhar para os lados, para viver em casas sem cercas, se as pessoas tiverem isso, o resto dá-se um jeito.
Mas, no Brasil que eu quero, não seriam os políticos que pensariam nesses três pontos. Seriam os eleitores. O Brasil que eu quero tem, atrás de cada celular na horizontal, um eleitor que sabe o que quer.