Já sei quem será eleito presidente em outubro: um mau candidato. Em geral, é assim, as massas fazem péssimas escolhas. E não é só no Brasil que o gosto popular é estragado. O cidadão médio, no mundo inteiro, é um distraído, move-se mais pelo que sente do que pelo que pensa.
Esse é o maior defeito da democracia. A democracia serve como antídoto contra a tirania, mas, como sistema de governo, é pouco eficiente. Platonicamente falando, o ideal seria a aristocracia – o governo dos melhores. Só os mais sábios deveriam comandar. Mas isso é utópico por várias razões, e a principal delas é que logo o governo aristocrático se tornaria tirânico e contra a tirania só existe o remédio da democracia.
Então, temos de nos submeter à mediocridade democrática. Muitos dos países mais desenvolvidos resolveram o problema com o parlamentarismo, que nada mais é do que o voto indireto.
No caso dos Estados Unidos, o presidencialismo é mitigado pela força da federação. Cada Estado funciona quase como um país autônomo. Assim, é mais fácil para o Trump intimidar o Kim Jong-un do que o prefeito de Boston. Por isso, a eleição pelo colégio eleitoral é mais apropriada do que a de um homem, um voto. Os Estados Unidos são, realmente, Estados que se uniram.
No Brasil, que também é continental, as diferenças entre os Estados não são levadas em consideração. O que vale para o Acre vale para o Rio Grande do Sul. E, para o drama virar tragédia, o presidente é um rei escolhido por uma população massivamente iletrada. O eleitor brasileiro é sempre vítima de demagogia, porque ele exige a demagogia. Ele quer acreditar que o seu rei irá salvá-lo e que um bom rei é a causa da sua prosperidade, assim como um mau rei é culpado pela sua desgraça.
A democracia serve como antídoto contra a tirania, mas, como sistema de governo, é pouco eficiente.
Mas o pior de tudo é que, ainda que o presidente mude, a estrutura continuará a mesma, esse bem fornido Estado brasileiro. Dê uma olhada em algum setor dessa estrutura. Qualquer setor, em qualquer âmbito, seja municipal, estadual ou federal. Provavelmente, você encontrará desperdício e irregularidades. Na quarta-feira, foi descoberto um escândalo na Carris. Outro dia, na Petrobras. Abra mais algumas gavetas do setor público e as ratazanas sairão correndo de dentro delas. A corrupção campeia, como é demonstrado todos os dias nos noticiários. As piscinas do poder estão cheias de ratos, como diria Cazuza.
Por quê? Porque é preciso. O dinheiro da corrupção fomenta partidos. Que, assim, têm recursos para continuar no poder. Continuando no poder, os partidos podem colocar seus agentes em postos-chave para preservar o esquema de corrupção. Que alimenta os partidos. Que continuam no poder.
Corruptos e políticos se retroalimentam. E, acima de todos eles, o presidente dá legitimidade ao sistema. Afinal, ele foi eleito pelo voto direto do povo. Ele é a prova de que a democracia funciona.
Funciona mesmo. Para os mesmos.