Quando você é pai, ou exerce um cargo de chefia, ou é líder de algum grupo humano, ou até se é dono de um cachorro, o que você mais precisa ter, mais do que qualquer outra qualidade, são critérios.
Os critérios é que balizam qualquer associação e a tornam justa, mesmo que eles, os critérios, sejam ruins. Mesmo que sejam injustos.
Hoje, as eleições brasileiras são um exemplo de lisura, competência e correção para o mundo inteiro.
Em uma sociedade, os critérios tomam a forma da lei. Se a lei for injusta, deve ser modificada, mas, enquanto não for modificada, tem de ser cumprida. A lei há de estar acima de todos os indivíduos exatamente para proteger o indivíduo. Porque, se a lei estiver acima de todos, um único homem, se estiver dentro da lei, é mais poderoso do que todos. Ele esfrega a lei na cara da multidão e brada: "Eu posso, eu tenho direito, eu estou com a lei".
Depois do primeiro turno das eleições, a grande notícia para os brasileiros não são as vitórias e as derrotas desses ou daqueles candidatos. A grande notícia é que o Brasil está se movendo por um sistema lógico e impessoal. As instituições e a lei estão sendo respeitadas, e não por concessão de quem quer que seja, mas porque o exercício da democracia estabeleceu, exatamente, critérios.
Isso é algo que só se adquire com o tempo e com o hábito. O Brasil se atrasou nesse processo. Em 1889, o marechal Deodoro proclamou a República por causa de uma fake news. Ele nem era republicano; era monarquista. Estava de cama, doente, quando uns republicanos gaiatos vieram lhe dizer que o imperador Dom Pedro II havia nomeado o gaúcho Gaspar Silveira Martins como chefe de gabinete. Deodoro odiava Silveira Martins. Adivinhe por quê. Por causa de mulher, é claro. Que mulher? Uma gaúcha, é claro. Ambos eram apaixonados pela belíssima Baronesa do Triunfo, e Silveira Martins levou a melhor. Assim, quando disseram ao marechal que Silveira Martins viraria primeiro-ministro, o marechal derrubou o governo e o império. Que mulher devia ser a baronesa...
Assim começou a nossa democracia. Mas era uma democracia, apesar de todos os seus defeitos. Ela ia melhorando, ia evoluindo, até que Getúlio Vargas deu o golpe de 1930. Tudo se entortou, de lá para cá. E agora, só agora, estamos tendo uma sequência de normalidade. São pouco menos de 30 anos, mas esse período foi o suficiente para produzir um corpo de funcionários públicos de carreira exemplares. São juízes, desembargadores, procuradores, agentes policiais, servidores de diversas instâncias, que, aliados a uma imprensa livre, criaram e mantêm instituições que estão garantindo a democracia. Hoje, bilionários riquíssimos e corruptores, gente de sobrenome fidalgo, como os Odebrecht, foram punidos, tanto quanto líderes populistas corruptos, como Lula. Hoje, as eleições brasileiras são um exemplo de lisura, competência e correção para o mundo inteiro. Tudo isso graças a funcionários públicos de carreira, homens do povo, como eu e você. É o sistema funcionando de baixo para cima. É a democracia brasileira forte e em plena atividade. Não interessa quem vai ser eleito no final do mês. A democracia brasileira seguirá ilesa. Porque temos, enfim, um sistema. Porque temos critérios.