Você e eu sabemos qual é o caminho da salvação: é o arrependimento. Você e eu sabemos que não há como corrigir nossos erros se não os reconhecermos.
Você e eu sabemos disso.
O PT, não.
Se qualquer petista quiser descobrir por que Bolsonaro fez essa votação gigantesca, basta ler o programa de governo da sua coligação.
O PT em particular e as esquerdas em geral sofreram uma estrondosa derrota, neste primeiro turno das eleições, exatamente porque nunca admitiram suas falhas, nunca se penitenciaram por seus pecados.
Foi por isso que Bolsonaro, um candidato rude, quase agreste, por pouco não alcançou percentual para ser eleito presidente já neste domingo.
As esquerdas não compreenderam o que está acontecendo no Brasil. Em primeiro lugar porque estão há quatro anos atacando a Lava-Jato, o que é muito, muito obtuso. A Lava-Jato foi o que de melhor ocorreu na América Latina desde a abolição da escravatura, no fim do século 19. Pela primeira vez, na história deste pedaço do continente, as instituições estão sendo maiores do que o populismo e do que o poder do dinheiro. As esquerdas, porém, investem contra a Lava-Jato, os juízes, os desembargadores, os agentes da Polícia Federal e o Ministério Público como se fosse possível que todas essas instituições se unissem em uma conspiração orgânica para desmoralizar seus líderes pretensamente iluminados, em especial Lula.
Em segundo lugar, o PT não entendeu as razões do crescimento de Bolsonaro. As razões não estão fora do partido, estão dentro dele. Se qualquer petista quiser descobrir por que Bolsonaro fez essa votação gigantesca sem ter partido, sem fazer campanha nas ruas e sem ter nem sequer tempo de propaganda na TV, basta ler o próprio programa de governo da sua coligação. Lá, a folhas tantas, está escrito, literalmente, o seguinte:
"A cada dia que passa vai aparecendo o principal objetivo da coalizão golpista: inverter as políticas que valorizaram, nos governos Lula e Dilma, o trabalho diante do capital, a nação diante do império, as maiorias e minorias oprimidas e discriminadas diante de uma elite branca, misógina e racista, autoritária e excludente".
Quem será essa elite branca, misógina e racista, autoritária e excludente da qual um eventual governo petista se tornará inimigo? Eu, por exemplo, sou branco. É certo que não pertenço à elite econômica, mas posso ser enquadrado na elite intelectual. O governo do PT será meu inimigo? Devo temer algo? Os empresários certamente devem... Mas e Ricardo Semler, que escreve artigos em favor do PT, esse também está sob ameaça? Ou empresários petistas estão a salvo? Será que, se o PT vencer, devemos todos nós, brancos, assinar ficha no partido? Que medo.
É isso, é essa divisão do Brasil entre o povo e o antipovo, é essa pregação atrasada da luta de classes (trabalho versus capital) que fez com que um político no mínimo controverso, como Bolsonaro, amealhasse essa quantidade espantosa de votos no primeiro turno. Bolsonaro surgiu como a nêmesis do PT. Foi assim que o identificou o eleitor que não aceita mais o Brasil dividido e que preza a limpeza que está sendo feita pela Lava-Jato.
O PT poderia ter evitado tudo isso lá atrás, se reconhecesse os erros cometidos nos governos Lula e Dilma e se compreendesse os defeitos graves da forma como rotula a sociedade brasileira. Mas, não. Jamais houve uma autocrítica, jamais houve um ato de contrição. Ainda há tempo, o segundo turno vem chegando. Lembrem-se: só os que se arrependem se salvarão.