Durante as manifestações das mulheres contra Bolsonaro, no sábado passado, a atriz Bruna Linzmeyer, da Globo, sentiu vontade de fazer xixi. Ela estava com um grupo de amigas no centro do Rio, e todas, ou quase todas, ao que parece, foram acometidas por igual premência. Não vacilaram: baixaram as respectivas calcinhas e urinaram ali mesmo, na calçada, ao ar livre, às vistas do povo e de alguém que fotografou a cena.
O país, qualquer país, funciona por causa da classe média. Mas, no Brasil, a classe média é desprezada.
Dias depois, vi a foto, divulgada na imprensa e nas redes sociais, e pensei: quantos votos essa única imagem terá amealhado para Bolsonaro?
Claro que nem todas as mulheres que participaram da manifestação seriam capazes dessa ousadia de gosto azedo da atriz, mas o movimento #EleNão, em si, só poderia render votos a Bolsonaro, como rendeu. A agressividade dos grupos politicamente corretos é trágica… para os grupos politicamente corretos.
Tempos atrás, escrevi uma coluna debaixo do título "Os artistas estão errados". Começava assim: "Você quer saber para onde o povo está olhando? Observe os artistas. Se os artistas estão olhando para um lado, o povo está olhando para o outro". Vale também para os intelectuais, para os jornalistas, para os cientistas sociais, essa turma descolada.
Por povo, refiro-me menos aos que a dupla de ataque da Alemanha, Marx e Engels, definia como lúmpens, esses que hoje rolam pela horda de desempregados e vivem de expedientes. Esses são uns distraídos. O espírito do povo, mesmo, está na classe média.
Pobre classe média brasileira, vítima de preconceitos, detestada como bife de fígado. Que defeito do Brasil! Porque, acredite, você pode medir o tamanho da justiça social de uma nação pelo tamanho da sua classe média: quanto maior a classe média, mais justa a nação. É a classe média que faz um país se mover, é a classe média que sustenta, estabiliza e enriquece um país.
No Brasil, só a classe média realmente se importa com a lei e só ela tem realmente algo a perder se não cumprir a lei. O infrator rico ou influente paga advogados, usa as possibilidades da lei contra o cumprimento da lei. O infrator pobre, o tal lúmpen distraído, se for alcançado pela lei, dá de ombros. Preso não será, que nem no presídio há vagas para ele. Multado não será, que ele não tem dinheiro para esses luxos.
A classe média passa a vida temendo perder o emprego. O rico, óbvio que não. Ele não precisa de emprego. E o pobre, muitas vezes, nem procura mais emprego. Disso ele já desistiu.
A classe média paga imposto, entra na fila do banco, faz financiamentos, estrangula-se em prestações, leva os filhos ao colégio.
O país, qualquer país, funciona por causa da classe média. Mas, no Brasil, a classe média é desprezada. "Eu odeio a classe média!", bradava aquela socióloga do PT com boca mole e cara de cachorro pequinês, enquanto Lula ouvia e ria. De que classe ela é, essa socióloga? E de que classe são os professores universitários que ganham 20 mil por mês, os advogados e juízes trabalhistas que passam as férias em Punta, os artistas e intelectuais que pagam R$ 400 para ver o show do Chico, todos esses que cospem na classe média e que a chamam, pejorativamente, de pequena burguesia, de que classe eles são?
Eles são da odiada classe média. Mas esses estão com a vida ganha, eles podem urinar na calçada em um presumido ato de rebeldia contra o sistema sem medo algum. Já aquele que paga os boletos todo mês e que se inquieta com a tarifa de energia elétrica, esse tem medo. Esse, sabe o que ele sente? O que ele de fato sente? É isso, o que ele sente, que fez crescer Bolsonaro depois de as manifestações gritarem #EleNão. O que é? Conto na próxima coluna.