No momento em que escrevo, o número de mortes e infecções pelo coronavirus que surgiu na China ultrapassou o registrado pela Sars, em 2003.
As embaixadas de Japão, EUA e Inglaterra estão repatriando seus cidadãos.
Esse vírus respiratório se espalha pelo ar, e ainda não se conhece sua capacidade de infecção ou percentual de letalidade. Casos foram reportados na Malásia e no Tibete, mostrando a extensão da epidemia. A boa notícia é a enorme transformação pela qual o panorama científico e tecnológico passou desde 2003.
A biotecnologia hoje é uma ciência veloz e ágil; as redes de comunicação atingem os lugares mais ermos. A China, no passado cheia de segredos, engajou-se desta vez em um esforço de compartilhamento global de dados. Em uma semana, o vírus havia sido sequenciado por laboratórios chineses e americanos. Em três semanas, um grupo australiano já havia recriado o vírus em laboratório – isso com a Austrália pegando fogo.
Cientistas de diferentes países já trabalham em testes, diagnósticos e vacinas, alimentado um banco de dados que pode ser acessado de qualquer lugar do mundo, atualizado em tempo real.
A China investiu recursos massivos em ciência, resultando numa credibilidade que lhe permite ocupar lugar definitivo no pódio das grandes potências tecnológicas. O líder chinês hoje sabe que precisa empregar todo seu poderio técnico-científico-administrativo para evitar um momento tipo Chernobyl, mas com abrangência mundial. Um hospital com mil leitos só para coronavirus foi inaugurado, e visitas regulares da OMS foram autorizadas.
Se concretizado controle do vírus, a conquista do reconhecimento internacional será um marco na história de um país que até pouco era críptico em linguagem e costumes, com fama de falsificar marcas e quebrar patentes. Embora isso ainda aconteça, a China já é mais reconhecida como potência tecnológica do que como camelô. Além de ser um mercado gigante, cujo consumo influencia até o preço da carne aqui.
Sabemos que os vírus respiratórios pulam de hospedeiros animais – galinhas e porcos, no caso da influenza; animais silvestres, prováveis no caso do coronavirus – para os humanos. Quando têm sucesso, causam as epidemias.
Sempre surgirão novos vírus, e provavelmente na China, devido aos números esmagadores de animais consumidos. Os chineses sabem, portanto, já há tempos que precisam estar preparados para isso.
Para o Rio Grande do Sul, cuja economia depende da agropecuária, não seria ruim aprender com o investimento em ciência da China. Calcular nossas fraquezas e forças e criar fundos de estímulo tecnológico. Independentemente do governo federal. Porque não há como ter legitimidade internacional enquanto houver analfabetos liderando o Ministério da Educação e criacionistas chefiando a Capes.
Quando essa insanidade acabar, seria importante o Estado estar preparado, antecipando problemas prováveis nesse cenário, e garantindo tecnologia para seu fortalecimento econômico.