Nesta semana, Geoffrey Hinton e John Hopfield receberam o Nobel de Física pelo desenvolvimento de redes neurais — que a maioria entende como inteligência artificial (AI). Elas são sistemas de aprendizado de máquina inspirados na maneira com que os neurônios se conectam. Cada neurônio é representado por um nódulo, com valores diferentes.
A maneira com que um influencia o outro seriam as sinapses, que podem ser reforçadas ou enfraquecidas, e assim a ferramenta treina e aprende, seguindo algoritmos. Isso é hoje utilizado para tudo — desenvolvimento de materiais, predição de vendas, desenho de drogas, composição de imagens e textos. Hinton é conhecido como o “padrinho da AI”. Esta é a transformação mais importante que a humanidade vai enfrentar na sua história. Só neste mês, a ONU reuniu líderes mundiais para discutir AI; e pela primeira vez um projeto de lei está em avaliação nos EUA, na Califórnia, para a regulação do seu uso. O argumento é o de que todos os produtos (medicamentos, alimentos, máquinas) são testados antes de liberados para uso humano — menos a AI.
Os algoritmos editores de informação nas redes sociais receberam apenas uma instrução: manter o leitor engajado. E descobriram que o ódio e o medo são os melhores engajadores
Mesmo sem testes, demos a algoritmos o papel de editor de notícias — posto que era reservado aos mais experientes e influentes jornalistas. Os algoritmos editores de informação nas redes sociais receberam apenas uma instrução: manter o leitor engajado. E descobriram que o ódio e o medo são os melhores engajadores — sejam as notícias verdadeiras, ou falsas. O resultado é a onda de desinformação que vem causando as polarizações observadas no mundo inteiro. Em seu mais recente livro, Nexus, Yuval Noah Harari foca a informação como principal ferramenta de cooperação social.
Harari frisa que as democracias surgiram com — e dependem da — circulação livre da informação; a primeira coisa que os ditadores fazem é suprimir os meios de comunicação. Hoje, com algoritmos editando a informação sem nenhuma regulação, as democracias estão ameaçadas, e podem desaparecer. Há três meses, Hinton se demitiu de seu posto no Google, preocupado com o uso do que criou. E avisou: quando “eles” forem mais inteligentes do que nós — antecipando o que jamais imaginamos —, vai ser tarde demais.