Eu era bebê quando Arno Penzias e Robert Wilson descobriram a radiação cósmica de fundo em micoondas – ou RCFM, como é conhecida. Como se fosse um ruído, que se detecta em todo o universo, são os restos de uma luz muito, muito antiga, emitida quando o universo tinha 380 mil anos. Ela nos dá informações sobre um universo jovem, simples, e muito quente. James Peebles, ganhador de metade do Nobel em Física agora em 2019, conta que, em uma conversa sobre o assunto com seu orientador, na época, ele lhe disse meio vagamente: por que você não pensa na teoria disso tudo? E ele vem pensando nisso desde então.
Alguns anos mais tarde, enquanto os programas espaciais se preparavam para colocar homens no espaço no que parecem hoje latinhas de sardinha, e os computadores da Nasa eram mulheres de carne e osso, Peebles e seus colegas trouxeram a cosmologia para um novo patamar. Sua teoria, arrojada e rigorosa, relacionou pela primeira vez a RCFM e o Big Bang. Seus cálculos mostraram que a luz vinha se propagando pelo espaço desde o início, e sua energia, decaindo ao longo do tempo – ao mesmo tempo em que a extensão do espaço aumentava. Era o universo se expandindo.
Cálculos envolvendo a energia desses fótons permitiram inferir que a temperatura daquele universo bebê era mais de 10 bilhões de graus centígrados. Isso levou à formação dos primeiros pares de elétrons, pares de neutrinos, e, subsequentemente, prótons e nêutrons, até os primeiros núcleos de átomos. O que conhecemos como matéria estava então assumindo um estado à parte da energia. Com esses dados, eles calcularam as quantidades relativas de isótopos de elementos. E descobriram que os prótons e neutros que nos compõem eram apenas uma fração da matéria. A maior parte seria matéria escura, invisível para nós, que não interage com a matéria comum. Apenas a gravidade que ela gera diz que ela está lá.
Mais tarde, Peebles calculou como os pontos quentes e frios da CMB tornaram-se as galáxias e os espaços vazios que detectamos hoje. Peebles pensa até hoje no Big Bang – não a série de TV. Ele dividiu o prêmio com Michel Mayor e Didier Queloz, que inventaram um equipamento capaz de magnificar a potência da busca por outros planetas orbitando sóis. Os planetas são escuros, e as estrelas, brilhantes. Se um planeta gira ao redor de uma estrela, deve alterar a rotação desta, deixando-a levemente “inclinada”. Mayor e Queloz, entre outros, em 1995 procuravam saber se afinal estávamos sozinhos no universo, e seu método novo possibilitou medir a luz de 142 estrelas ao mesmo tempo. Assim eles descobriram a 51 Pegasi, na constelação de Pegaso. A resposta foi não, nosso sistema solar não é único. O Nobel de Física de 2019 premia duas profundas mudanças na compreensão do universo: a primeira história quantitativa e científica de como chegamos aqui; e a segunda, a reconsideração de onde estamos. Para um cientista, não há respostas definitivas, apenas a busca constante de entender, e se harmonizar, com a natureza.