Em maio, a Grã-Bretanha comemorou sua primeira semana sem eletricidade derivada de carvão desde 1882 – ano de inauguração, em Londres, da primeira central elétrica com base no mineral. As primeiras 24 horas já haviam ocorrido em abril de 2017. O uso inglês de energia baseada em carvão declinou de 40%, em 2012, para 5%, em 2018, com meta de chegar a 0% em 2025 e zero emissões de carbono em 2050. Isso é parte da tendência mundial da queda do uso de carvão – caiu 75% de 2015 a 2018.
Na nova economia da energia, os investimentos em carvão migram inexoravelmente para os renováveis. A Índia investiu mais em energia solar do que em carvão em 2018. A Austrália atingiu um ponto em que construir plantas de energia renovável já é mais barato do que centrais elétricas baseadas em carvão ou gás. Nos EUA, mineradoras estão falindo por falta de investimentos. A Alemanha se propõe a ser livre de carvão em 2038, comprometendo 40 bilhões de euros em novos empregos substituindo os que serão eliminados. Essa mudança não se deve só ao aquecimento global. As minas de carvão não geram muitos empregos: a extração é automatizada, e a formação técnica, ultrapassada – esses empregos vão desaparecer.
A mineração causa poluição do ar com a poeira e os elementos químicos usados. O carvão é um dos maiores contribuintes de poluição altamente danosa para a saúde humana – causa asma, câncer e doenças cardíacas. Políticas que substituam o uso doméstico de combustíveis sólidos estão sendo preparadas para a implementação nesses e em outros países. O desaparecimento do carvão, como combustível, nos anos que virão, é inevitável.
Porto Alegre, enquanto isso, é uma cidade que luta contra um descaso criminoso da administração pública. A área urbana cresce desordenadamente, sem atualização para redes hidráulicas e elétricas. Zonas de lixo amontoam-se próximas a moradias. Ruas e calçadas são irregulares e perigosas, e a cultura local é ignorada. Isso afeta a autoestima da população e desvaloriza os investimentos na cidade – sejam restaurantes ou prédios de apartamentos: por que fazê-los na cidade?
Há algumas semanas, escrevi sobre o Pacto Alegre e a tentativa de universidades e empresários locais de reativar o empreendedorismo e a inovação, fixando talentos no município. Talvez muitos dos envolvidos não tenham idade para lembrar de um tempo em que os moradores deixaram de usar o Guaíba e a Zona Sul para não precisar respirar um ar enevoado, poluído, fedorento – quando a empresa escandinava Borregaard fabricava celulose e despejava os detritos no estuário. Décadas de protestos foram necessárias até que providências fossem tomadas e os porto-alegrenses pudessem retomar algum orgulho pela cidade.
O centro e a orla do Guaíba são as maiores zonas de concentração da população, para trabalho e lazer, respectivamente. A instalação de uma mina de carvão a céu aberto a menos de 20 quilômetros dali (a Mina Guaíba, da empresa Copelmi), tem um cunho tão retrógrado que seria inacreditável se não vivêssemos hoje um momento em que políticas desse tipo são toleradas por serem confundidas com estabilidade.