Várias companhias aéreas suspenderam nesta quarta-feira (29) seus voos para a China continental, onde a epidemia do novo coronavírus já causou mais de 130 mortes e deixou quase 6 mil infectados, superando o número de pacientes provocados pela Síndrome Respiratória Aguda Severa (Sars) há quase 20 anos.
Nesta quarta, centenas de japoneses e americanos foram evacuados de Wuhan (centro da China), onde o vírus apareceu em dezembro de 2019.
As autoridades da saúde anunciaram outras 26 mortes, elevando o saldo total para 132 mortes e 5.974 casos confirmados na China continental (sem contar Hong Kong).
Este número excede o de infecções da epidemia de Sars de 2002-2003, outro coronavírus que contaminou 5.327 pessoas no país. A Sars deixou 774 mortos no mundo, 349 deles na China continental.
Além da China, que registra a grande maioria das infecções, o coronavírus afeta cerca de 15 países, incluindo Emirados Árabes Unidos, que anunciaram nesta quarta-feira quatro cidadãos chineses contaminados.
Como medida de precaução, as companhias aéreas British Airways e Lufthansa, entre outras, anunciaram a suspensão de todos os seus voos para a China continental.
A Ukraine International Airlines e a Skyup Airlines (Ucrânia), a Air Austral (Ilha da Reunião/França), Lion Air (Indonésia) e as autoridades do Cazaquistão adotaram medidas semelhantes (incluindo ônibus e trens).
O Reino Unido, como os Estados Unidos e a Alemanha, aconselha seus cidadãos a não viajarem para a China. Londres também anunciou que isolará por 14 dias aqueles que chegarem de Wuhan.
Repatriamentos
O Japão e Estados Unidos foram os primeiros países a repatriar parte de seus cidadãos em Wuhan.
Esta cidade e quase toda a província de Hubei estão isoladas do mundo desde 23 de janeiro, numa tentativa das autoridades de conter a epidemia. O cordão sanitário afeta 56 milhões de habitantes e vários milhares de estrangeiros.
Um avião com 200 japoneses pousou em Tóquio nesta quarta-feira.
— Não podíamos mais circular livremente (...) O número de pacientes começou a aumentar rapidamente e foi assustador — disse Takeo Aoyama, funcionário da siderúrgica Nippon Steel.
Na ausência de estrutura legal, as autoridades japonesas não poderão colocar em quarentena os repatriados e pediram que ficassem em casa por duas semanas.
Um avião enviado pelos Estados Unidos também deixou Wuhan nesta quarta com cerca de 200 pessoas a bordo, incluindo funcionários do consulado local.
Quase 600 cidadãos europeus querem ser repatriados da China no contexto atual, anunciou a Comissão Europeia, que recomendou que seus funcionários não viajassem para esse país.
Dois aviões franceses fretados pela UE repatriarão cerca de 350 europeus.
A Austrália, que também está estudando uma evacuação, pode colocar os repatriados em quarentena na Ilha Christmas, onde os requerentes de asilo normalmente aguardam.
Wuhan, onde a circulação de veículos não essenciais está proibida, parece uma cidade fantasma há dias.
— É o primeiro dia em que saio desde o início do isolamento, mas não tive escolha, tive que comprar comida — disse à AFP um dos poucos pedestres nas ruas.
No resto do país, onde o feriado do Ano Novo Chinês foi prolongado até 2 de fevereiro, a maioria dos habitantes evita os centros comerciais, cinemas e restaurantes.
OMS volta a se reunir
Nesta quarta-feira, as autoridades anunciaram o cancelamento das provas da Copa do Mundo de esqui alpino previstas para fevereiro na China.
A seleção feminina de futebol da China foi colada em quarentena em um hotel de Brisbane, na Austrália, onde deve disputar o pré-olímpico.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta quarta-feira que convocará na quinta o comitê de emergência sobre o coronavírus, a fim de determinar se a epidemia constitui ou não um alerta internacional.
"Decidi reunir novamente amanhã o Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional sobre o novo #coronavírus (2019-nCoV) para me aconselhar sobre a questão de saber se a epidemia atual constitui uma emergência de saúde pública de alcance internacional", escreveu Tedros Adhanom Ghebreyesus no Twitter.
"A maioria dos mais de 6.000 casos do novo #coronavírus é encontrada na China - apenas 1%, ou seja, 68 casos, foram registrados hoje em 15 outros países", acrescentou.
Por sua vez, Michael Ryan, chefe do Programa de Emergência da OMS, pediu os governos em todo o mundo, incluindo aqueles que não registraram casos do novo coronavírus, a "ficarem alertas e agirem" para evitar o contágio. "O mundo inteiro tem que agir".
Os cientistas do instituto Doherty na Austrália conseguiram replicar em laboratório o novo coronavírus, uma etapa crucial para criar uma vacina, uma tarefa que ainda deve demorar meses.
O coronavírus de Wuhan também tem consequências econômicas.
A empresa americana Apple admitiu problemas na cadeia de produção na China e a montadora japonesa Toyota anunciou a prorrogação por mais uma semana da paralisação das atividades em suas três fábricas na China, até 9 de fevereiro.
Já a rede sueca de móveis Ikea anunciou o fechamento temporário de metade de suas 30 lojas na China para combater o contário do novo coronavírus.
* AFP