O Rio Grande do Sul deve produzir nesta safra 500 mil litros de azeite de oliva, um marco para a cultura que a cada ano vem se expandido no Estado. A combinação de clima ideal e manejo adequado resulta em produtos de excelente qualidade e reconhecimento internacional. Na última safra, a produção foi recorde e chegou a 448 mil litros.
A cultura tem saído praticamente ilesa dos efeitos da estiagem que castiga as demais lavouras no Estado. Iniciada há cerca de um mês, a colheita atual já indica que será promissora. Cerca de 10% da safra já foi colhida, e as frutas mostram que a qualidade está excelente, também como um efeito da falta de chuvas. A quebra estimada pela seca é de no máximo 5%, e em regiões muito isoladas.
— Nossa expectativa é de que a produção siga nesses 500 mil litros previstos, mas não será surpresa se superar e tiver um novo recorde. Tivemos uma estiagem, mas a cultura que menos sofreu foi a nossa. Passamos praticamente ilesos — celebra o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes.
O Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional da fruta, respondendo por 80% da produção nacional de azeite. A safra deste ano conta com aumento de 20% das áreas produtivas — lembrando que as oliveiras têm produção comercial a partir dos cinco anos de plantio.
Mas há muito para crescer. Os olivais plantados ocupam apenas 6 mil hectares no Estado. Sendo que a área propícia à cultura, segundo Fernandes, é de 1 milhão de hectares, ou seja, com bastante espaço ainda a expandir.
O presidente menciona que o sucesso da cultura tem despertado interesse de novos produtores. Na abertura oficial da colheita, no início de fevereiro, muitos empresários foram até o evento, realizado em Encruzilhada do Sul, para buscar informações sobre a olivicultura, conta Fernandes.
Atualmente, o Rio Grande do Sul possui mais de 70 marcas e 18 lagares (estrutura industrial onde a oliva é transformada em azeite). São 103 municípios produtores de oliva e 321 produtores que vêm se destacando internacionalmente. No último ano, o azeite extravirgem brasileiro recebeu 130 premiações.
Uma delas é a Prosperato, com pomares que somam 220 hectares em Caçapava do Sul, na Campanha, em São Sepé, na Região Central, e em Barra do Ribeiro e Sentinela do Sul, na chamada Costa Doce. A empresa é a única brasileira do ramo que tem toda a cadeia produtiva da oliva – da produção das mudas ao plantio, extração, envase e varejo próprio.
A área em Sentinela, distante cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre, foi onde a empresa iniciou na olivicultura, mas com o desenvolvimento de mudas, em 2011, a partir da empresa Tecnoplanta. A aposta deu certo e o local responde hoje como um núcleo de pesquisa. São cerca de 30 variedades de oliveiras em desenvolvimento no viveiro e 10 em produção.
O passo seguinte, e inevitável para divulgar a cultura, foi iniciar a produção de azeites – o que também deu certo e hoje é um dos grandes braços da empresa.
A marca gaúcha coleciona distinções em países da Europa e da Ásia, despontando nas premiações internacionais em diferentes modalidades. Desde 2017, a Prosperato é referida no Guia Flos Olei, considerado “a bíblia do azeite”, como uma das melhores marcas de azeite do mundo. No começo de fevereiro, os olivais da empresa em Caçapava do Sul entraram no roteiro do crítico italiano Marco Oreggia, editor do Guia, que desembarcou em solo gaúcho por iniciativa própria para conhecer a produção do Estado.
— Os europeus estão vindo conhecer para entender por que se ganha tanto prêmio na nossa região. E é importante ver isso com otimismo, porque acreditamos que está nascendo uma nova força econômica para a Metade Sul, como uma aposta de nova cultura e de solução econômica ao Estado — avalia o presidente do Ibraoliva.
Em pleno andamento, a colheita nos pomares da Prosperato é quase totalmente mecanizada. O shaker é uma máquina que chacoalha o tronco das árvores para que as azeitonas caiam em uma tela estendida no chão. O que não desprende das folhas é retirado por uma derriçadeira, equipamento semelhante ao utilizado na colheita do café. A fruta, então, é catada manualmente por safristas.
Na safra atual, a empresa espera colher 400 toneladas de oliva e produzir cerca 50 mil litros de azeite extravirgem. A produção é um pouco inferior à do ano passado em quantidade, o que já era esperado devido à última colheita ter sido extraordinária. Mas, em rendimento, supera.
— Cada ano vamos aprendendo. A safra de agora já esperávamos que fosse menor que a do ano passado, mas o rendimento está excelente. Ano passado se produziu muita fruta. Esse ano, é menos fruta e mais azeite — disse Rafael Marchetti, diretor da Prosperato, enquanto apresentava os olivais a um grupo de jornalistas nesta segunda-feira (27).
Como o lagar da empresa fica em Caçapava do Sul, a azeitona que é colhida em Sentinela é transportada em caminhões refrigerados para não perder o frescor. De lá, a empresa extrai o azeite que depois será envazado.
Atualmente, a Prosperato produz 11 rótulos, entre eles os blends, que são misturas entre variedades, os monovarietais e os azeites condimentados. Ainda em 2023, a marca deve lançar um rótulo comemorativo aos seus 10 anos.
Outros investimentos então no horizonte. A empresa prepara a construção de um novo empório beirando a BR-116, de onde também é possível avistar as oliveiras alinhadas no pomar. A loja venderá todos os produtos da marca, além de itens que estão sendo criados com a finalidade de divulgar a cultura. O projeto está em fase de finalização e as obras devem ser iniciadas ainda este ano.
— Tem muita coisa ainda a ser feita, mas estamos no caminho certo. Aprendemos muito nesses dez anos. Uma coisa que o azeite do Rio Grande do Sul tem e que o importado nunca vai ter é o frescor. Precisamos apostar nisso — disse Marchetti.