O uso do 2,4-D nas lavouras de soja não é apenas uma escolha econômica, segundo produtores, já que o herbicida tem preço inferior em relação a outros produtos disponíveis no mercado. A opção é justificada também pela eficiência da molécula química para conter o avanço de ervas daninhas – especialmente a buva, que nos últimos anos criou resistência ao glifosato, produto químico usado em conjunto com a soja transgênica.
– A partir de determinado estágio de crescimento da buva, o único ingrediente ativo que consegue eliminá-la é o 2,4-D. Alguns produtores tentaram substituir por outros e tiveram muitos problemas com plantas invasoras – relata Luis Fernando Fucks, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja).
A entidade reconhece que a má aplicação é a causa da deriva, principalmente em regiões onde as condições meteorológicas na primavera não são favoráveis. Entre as alternativas defendidas, além do treinamento, está o uso de adjuvantes (óleos minerais) misturados ao 2,4-D.
– A mistura aumenta o peso da gota, evita que se fracione e facilita a aderência no foco – explica Fucks, que se reunirá com técnicos da Embrapa no próximo dia 20 para tratar do assunto.
Presidente da Farsul, Gedeão Pereira chama atenção para o fator tempo: a época de aplicação do 2,4-D, em geral, se dá em agosto e setembro, quando o químico atua para fazer a limpeza das lavouras antes do plantio da soja. Ele destaca que há prazo suficiente para que o setor produtivo e os órgãos de fiscalização sentem à mesa para negociar soluções sem açodamento. Pereira acredita que o melhor caminho é seguir apostando em programas de qualificação como o deriva zero.
– As atividades precisam conviver umas com as outras. A proibição traria prejuízo muito grande e reduziria a produção de soja – diz Pereira, refratário à ideia das zonas de exclusão.
Ele avalia que uma regulamentação da pulverização terrestre, a exemplo do que foi feito na aviação agrícola, poderá trazer avanços. A medida consistiria em criar normas oficiais para o uso dos agrotóxicos em geral, não só do 2,4-D, com o estabelecimento de distâncias mínimas a serem resguardadas para aplicação de químicos nas redondezas de cultivos sensíveis – o que é diferente e menos drástico do que o zoneamento. A regulamentação também é citada como fundamental pela Secretaria da Agricultura.
– Hoje o que se vê são pessoas sem qualificação e despreparadas fazendo a pulverização terrestre – destaca Rafael Friedrich de Lima, chefe da Divisão de Insumos e Serviços Agropecuários da secretaria.
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Resíduo da aplicação do herbicida 2,4-D é apontado como causador de perdas em uvas, oliveiras e maçãs. Zero Hora visitou sete propriedades que receberam as confirmações da deriva em Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Jaguari e Monte Alegre dos Campos.