O herbicida 2,4-D, ao ter contato com o vegetal, atua no metabolismo, fazendo com que o processo hormonal da planta daninha se altere e entre em colapso. Quando resquícios do agrotóxico são levados pelo vento e alcançam outras culturas a quilômetros de distância, como videiras e oliveiras, ocorre algo semelhante: o herbicida atua no processo hormonal dessas plantas, reduzindo ou impedindo de dar frutos. Especialistas asseguram, contudo, que o princípio do 2,4-D não se aloja no produto final.
– É um químico que atua nas pontas de crescimento aérea e radicular. Desorganiza o desenvolvimento da planta, as folhas ficam retorcidas, e as raízes deixam de evoluir. O sintoma é na evolução, não fica nas outras partes. Isso significa que, eliminada a parte atacada, a brotação que vem depois é sadia – destaca o agrônomo e consultor em viticultura Antonio Santin.
A Secretaria da Agricultura informou que, até o momento, não fez análises em amostras de alimentos coletados em propriedades afetadas para avaliar resquícios de 2,4-D. Técnicos da pasta ponderam que existe prazo de carência entre a aplicação de agrotóxico e o período de colheita. Ou seja, o tempo é um atenuante de eventual presença do herbicida em alimentos.
Para as pessoas que trabalham nas propriedades em que ocorre a aplicação de agrotóxico ou no entorno, estudiosos apontam riscos de efeitos crônicos, a longo prazo, que podem atingir o organismo humano. Mas, diante de tema complexo, não há consenso entre pesquisadores.
– Não se pode dizer que não há risco para quem está nas propriedades. Você pode respirar, entrar em contato com a pele, beber na água. São pequenas quantidades de uma gama de produtos que interagem. De outro lado, dizer o que pode causar, é complexo e controverso. Depende de hábitos de vida, de fatores genéticos e da exposição às substâncias – avalia o engenheiro agrônomo Gianfranco Badin Aliti, da Divisão de Agrotóxicos da Fepam.
Ele conta ter recebido relatos de que, nas épocas de aplicação de químicos nas lavouras de soja, localidades de cidades do interior apresentam “certa névoa” e “cheiro muito forte” no ar.
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Resíduo da aplicação do herbicida 2,4-D é apontado como causador de perdas em uvas, oliveiras e maçãs. Zero Hora visitou sete propriedades que receberam as confirmações da deriva em Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Jaguari e Monte Alegre dos Campos.