O resíduo da deriva (produto que não atinge o alvo) de um agrotóxico nas lavouras de soja, principal cultura agrícola do país e do Estado, é apontado como causador de perdas em vinhedos e pomares de oliveiras nas regiões da Campanha, Fronteira e Centro. Nos Campos de Cima da Serra, onde o grão também ganhou espaço, há sinais de prejuízos na maçã e na uva. Com a desconfiança em safras anteriores, neste ano os atingidos comprovaram, pela primeira vez, a presença do princípio ativo 2,4-D nas plantas afetadas — das 53 amostras analisadas pela Secretaria da Agricultura em 18 municípios, 52 tiveram laudos positivos, atingindo 47 propriedades.
Em Candiota, o mesmo sentimento de frustração é visto na Vinícola Galvão Bueno, do apresentador da Rede Globo, onde a estimativa é de redução de 30% da produção em 30 hectares de parreirais. Na safra anterior, as perdas chegaram a 50%.
– No ano passado, a deriva ocorreu exatamente no período da floração. Agora, os danos foram menores, mas muito impactantes – relata Edvard Kohn (Edinho), agrônomo responsável pelos vinhedos, que também tiveram a confirmação de resíduo em laudo.
Os problemas de deriva são registrados ainda em Livramento, onde muitas vinícolas da Serra mantêm cultivos de variedades de uvas finas. No Estado, até agora, o município da Fronteira Oeste é o que tem o maior número de amostras coletadas com laudos positivos – 11 casos em videiras, um em oliveira e outro em pastagem.
– Nos 150 hectares que acompanho no município, há focos de deriva em praticamente todos, com perdas mais e menos intensas, conforme a localização da propriedade – conta Sinval Fernandes, produtor de uva e consultor em viticultura.
Única instituição de ensino com curso de bacharelado em enologia, desde 2011, a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) teve o vinhedo experimental de cinco hectares, em Dom Pedrito, afetado pela deriva pelo segundo ano consecutivo. A universidade solicitou laudo da Secretaria Estadual da Agricultura.
– Temos 77 cultivares de uvas diferentes, muitas delas nunca testadas na região – informa o professor Marcos Gabbardo, doutor em ciência e tecnologia agroindustrial na Itália, onde o uso do 2,4-D não é permitido.
O curso de bacharelado tem 140 alunos matriculados, além de outros 30 na especialização em enologia.
– O prejuízo para a pesquisa é enorme, são anos de trabalho perdidos. Além disso, os alunos são prejudicados nas aulas práticas de viticultura e enologia – resume Gabbardo.
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Resíduo da aplicação do herbicida 2,4-D é apontado como causador de perdas em uvas, oliveiras e maçãs. Zero Hora visitou sete propriedades que receberam as confirmações da deriva em Bagé, Candiota, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Jaguari e Monte Alegre dos Campos.