Uma facção criminosa é alvo de ofensiva do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) nesta terça-feira (14). O grupo possui atuação nas zonas norte e sul de Porto Alegre. Vinte suspeitos foram presos.
Uma das lideranças da organização criminosa, segundo a polícia, era Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, o Nego Jackson, que foi assassinado a tiros dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) 3, em novembro do ano passado. Por este crime, respondem dois apenados de uma facção rival, que estavam na mesma galeria que o preso assassinado.
A investigação que resulta na chamada Operação Aliança se iniciou há quase dois anos, em março de 2023. A apuração começou com a prisão de um criminoso em flagrante, por tráfico de drogas. Com ele, foram apreendidas porções de maconha e de crack.
Depois dessa prisão e dos materiais apreendidos com ele, a polícia descobriu que este homem estava agindo a mando de líderes da facção, com atuação nos bairros Cascata, Glória e Vila Jardim, entre outros. Além do comércio de drogas é investigado também o tráfico de armas.
A ação é realizada pela 1ª Delegacia de Investigação ao Narcotráfico do Denarc, coordenada pelo delegado Joel Wagner.
São 51 ordens judiciais, sendo 23 mandados de prisão preventiva e 28 de busca e apreensão. Os mandados são cumpridos em Porto Alegre e Gravataí, na Região Metropolitana, além das ordens em prisões de Charqueadas, Montenegro, Arroio dos Ratos e Canoas.
Em uma das casas, no bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, a polícia apreendeu frascos de bebidas presos em redes e ganchos. Em princípio, não há evidência da existência de drogas. Mas, segundo a polícia, esses materiais possivelmente seriam arremessados para dentro das prisões, com uso de drones.
— Aparentemente, esses materiais serviriam para o ingresso no sistema carcerário gaúcho. Há alças, ganchos, que possivelmente com uso de drones se fariam arremessos no interior das cadeias do RS. Uma análise preliminar não aponta que seja droga, mas será encaminhado ao Instituto-Geral de Perícias. A gente sabe que todos os artefatos, mesmo que alimentares, dentro do sistema carcerário, possuem valor muito grande. Por isso, dessa grande quantidade — afirma o diretor de Investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro.
Os itens foram encontrados na casa de um dos alvos, que seria responsável pela parte logística, realizando entregas, recebendo mercadorias e drogas para o grupo criminoso. Além disso, ele teria como função levar produtos proibidos para dentro do sistema prisional.
Entre os alvos dos mandados estão lideranças do grupo, gerentes, integrantes responsáveis pelo armazenamento, transporte e venda da droga, além de laranjas — pessoas que emprestam seus dados para que a facção movimente valores em dinheiro. Na casa de um homem, apontado como gerente do grupo, no bairro Teresópolis, na zona sul da Capital, a polícia apreendeu cerca de R$ 20 em dinheiro.
O homem preso em março de 2023, por exemplo, é apontado como peça-chave nas operações da facção, envolvendo-se diretamente na compra e venda de drogas e armas, além de articular atividades como distribuição de entorpecentes, coleta de lucros, lavagem de dinheiro e logística de transporte e armazenamento.
— São indivíduos de primeiro e segundo escalão dessa organização criminosa. Esses indivíduos já foram alvos no ano de 2024 de diversas operações policiais. Isso demonstra que a Polícia Civil do Estado do RS está atenta e vigilante, acompanhando todos os passos dessa organização criminosa — diz Carraro.
A morte dentro da prisão
Em 23 de novembro, Jackson Peixoto Rodrigues, 41 anos, foi morto a tiros dentro da cela que ocupava na penitenciária. Por este crime, foram indiciados e denunciados dois integrantes do grupo criminoso: Rafael Telles da Silva, o Sapo, uma das lideranças de uma facção rival à de Nego Jackson, e Luis Felipe de Jesus Brum.
Sapo foi transferido ainda no ano passado para uma penitenciária federal, fora do Estado. A medida, segundo a Polícia Penal, já estava prevista, antes mesmo do envolvimento na morte do rival. Brum, apontado como executor, foi transferido na semana passada para o módulo de segurança em Charqueadas.
Na mesma operação, realizada pelas forças de segurança do Estado, outros 10 integrantes da mesma facção criminosa envolvida no assassinato de Nego Jackson e em outros homicídios foram levados para isolamento. Os faccionados escolhidos para o isolamento foram enviados de diferentes unidades prisionais para o módulo de segurança.
Quem era Nego Jackson
Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, chegou a ser considerado o foragido mais procurado do RS, em 2017, período no qual o Estado enfrentava disputas sangrentas nas ruas, especialmente na Capital. O faccionado foi capturado no Paraguai, pela polícia da cidade de Pedro Juan Caballero, e posteriormente transferido de volta para Brasil.
Passou pelo sistema penitenciário federal — sendo enviado a Rondônia — mas retornou ao Estado. Era rival da facção do bairro Bom Jesus, integrando uma coalização de grupos criminosos. Apontado como chefe do tráfico na Vila Jardim, recentemente, segundo a polícia, havia sido um dos principais articuladores da criação de uma nova facção.