O guarda municipal Volmir de Souza, 54 anos, é um dos sobreviventes do ataque a tiros em Novo Hamburgo, ocorrido em outubro. Ele recebeu alta do hospital na última quarta-feira (6) após duas semanas internado. Nesta sexta (8), em entrevista à RBS TV, o agente relembrou detalhes do cerco que terminou com cinco mortos e oito feridos.
— Eu considero que nasci de novo. Tenho uma segunda data de nascimento. Dá para comemorar duas vezes ao ano a minha vida. Foi um livramento — diz o agente.
Volmir relatou que está há quase duas décadas na Guarda Municipal. Em 19 anos de ofício, afirma que foi a primeira vez que se viu em meio a uma troca de tiros durante atendimento a uma ocorrência.
Ele conta que teve os dois pulmões atingidos e que duas costelas foram quebradas pelos disparos do atirador, além disso, sofreu uma pequena fratura em uma vértebra.
— Foram quatro tiros que atingiram o corpo, mais dois no colete, bem na altura do coração. Sem colete, eu não estaria aqui — pondera.
Segundo Volmir, ele estava fazendo rondas perto da rodoviária do município quando recebeu um chamado, via radiocomunicador, de apoio da Brigada Militar (BM). O guarda municipal foi baleado ao tentar proteger um PM que estava ferido.
— Corri para tentar atirar contra a janela de onde estavam partindo os tiros, para ver se ele (o atirador) parava de atirar. Consegui efetuar uns cinco disparos e logo depois fui atingido. Caí no chão, procurei uma cobertura, ele continuou atirando e acertou mais tiros. Eu queria que ele parasse de disparar para que eu pudesse, de alguma forma, me aproximar para arrastá-lo (um dos PMs baleados) — relembra.
Volmir conseguiu se esconder atrás de um poste e afirma que "apagou". Em seguida, o agente diz que avistou a aproximação de PMs e de uma viatura da Guarda Municipal.
— Isso me deu forças. Eu me arrastei até eles, me pegaram e me colocaram dentro da viatura da Guarda Municipal e me levaram até a ambulância —rememora.
"Passa um filme"
O som dos estampidos dos tiros ainda ecoa nos ouvidos de Volmir. Pela grande quantidade de disparos, ele não conseguia mais distinguir se partiam do atirador ou do revide das forças de segurança.
— Deu tempo para pensar muita coisa. No primeiro momento, minhas pernas ficaram dormentes, já pensei em uma sequela grande. Logo depois que eu vi a demora do socorro, eu já pensei que não teria mais volta. Passou muita coisa na minha cabeça, passa um filme — relembra.
Volmir é casado e tem dois filhos adultos: um homem de 29 anos, e uma mulher, de 22. Ele estima que levará mais um mês para se restabelecer totalmente. Assim que estiver apto, ele pretende recolocar a farda e voltar às atividades profissionais.
— Estou me recuperando bem, apesar de todos os estragos. A gente vai voltar pra ativa e continuar o trabalho. É o ofício que a gente escolheu, e a gente já sabia desde o início de todos os perigos que envolve. A gente vai continuar na ativa, fazendo o que tem que ser feito — sustenta.
Relembre o caso
O crime aconteceu em uma casa na Rua Adolfo Jaeger, no bairro Ouro Branco, no dia 23 de outubro. Conforme a polícia, o homem estaria mantendo os pais em cárcere privado. O próprio pai teria ligado para a polícia denunciando maus-tratos. Logo que viu os policiais, na parte da frente do imóvel, o homem atirou contra eles.
Uma pessoa que estava fora da casa e não era policial nem familiar também foi atingida. Era o guarda municipal Volmir de Souza.
De acordo com o tenente-coronel Alexandro Famoso, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM) de Novo Hamburgo, houve tentativas de negociação com o atirador, incluindo contato telefônico, mas o homem só respondia com tiros.
O comandante Famoso informou que o homem atirou "de forma inesperada [...] em todas as pessoas que se encontravam naquele local, na frente da residência".
O atirador, Everton Crippa, foi morto pela polícia após um cerco ao imóvel que se estendeu por nove horas. Ele matou os policiais militares Everton Kirsch Júnior e Rodrigo Weber Volz, ambos de 31 anos; o próprio pai, Eugênio Crippa, de 74 anos; e o irmão, Everton Crippa, de 49 anos.
Oito pessoas ficaram feridas. A mãe e a cunhada do atirador seguem hospitalizadas.
Vídeos divulgados pela polícia mostram a ação dos policias durante o cerco e o interior da casa do atirador. A BM encontrou quatro armas e "farta munição" dentro do imóvel. O criminoso tinha registro de colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC) apesar de histórico de esquizofrenia. O Ministério Público Federal (MPF) investiga a concessão de porte a Crippa.