Um homem de 45 anos matou quatro pessoas a tiros e feriu outras em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, entre a noite de terça (22) e a madrugada desta quarta-feira (23).
O atirador, que foi encontrado morto dentro de casa no começo da manhã, foi identificado como Edson Fernando Crippa.
Os outros mortos na ocorrência são o pai do atirador, Eugênio Crippa, 74 anos, o irmão dele, Everton Crippa, 49, e o policial militar Everton Kirsch Júnior, 31.
Na terça-feira, após um dia internado, foi confirmada ainda a morte do soldado Rodrigo Weber Volz, 31 anos.
Como foi o crime
Edson Fernando Crippa, 45 anos, morava com os pais no bairro Ouro Branco, em Novo Hamburgo. Na noite de terça-feira (22), o irmão dele, Everton Luciano Crippa e a esposa, foram até a casa onde os três moravam. Vizinhos comentam que, na próxima sexta-feira (25), é a data de aniversário da matriarca e que esse seria o motivo da reunião familiar.
Após um desentendimento, o pai, Eugênio Crippa, 74 anos, chamou a Brigada Militar por volta de 22h. Eles relataram ter sofrido maus-tratos do filho. Ao ver os policiais na casa, por volta de 23h, Edson efetuou cerca de 300 disparos de pistola calibre 9mm e 380. Os tiros atingiram pelo menos nove pessoas, entre familiares, agentes da BM e da Guarda Municipal.
A troca de tiros com os agentes se estendeu durante a madrugada. Houve pelo menos dois momentos de confronto. Ele permaneceu dentro de casa por cerca de nove horas sob cerco da polícia.
Por volta de 8h30min, os policiais militares entraram na casa e constataram a morte do atirador. Segundo a polícia, não há sinais de que ele tenha tirado a própria vida. Ainda não se sabe em que momento exatamente ocorreu a morte.
— Após isso, houve um momento em que não tínhamos certeza se havia mais alguém junto do atirador dentro da casa. Após o sobrevoo de um drone, foi identificado que o atirador já estava sem vida — afirmou o tenente-coronel Alexandro Famoso, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar.
Foram realizadas três incursões: na primeira, socorreram os policiais feridos. Na segunda, retiraram o corpo do soldado já morto. E, na terceira, retiraram os familiares.
Quem são os feridos
Além dos três mortos, o ataque deixou nove feridos — um deles, Rodrigo Weber Volz, morreu no dia seguinte ao ataque. Eles foram encaminhados para atendimento médico.
São eles:
- Cleris Crippa, 70 anos, mãe do atirador
- Priscilla Martins, 41 anos, cunhada
- João Paulo Farias Oliveira, 26 anos, PM
- Joseane Muller, 38 anos, PM
- Volmir de Souza, guarda municipal
Feridos já liberados do hospital:
- Eduardo de Brida Geiger, 32 anos, PM
- Leonardo Valadão Alves, 26 anos, PM
- Felipe Costa Santos Rocha, PM
Estado de saúde dos feridos
O brigadiano João Paulo Farias Oliveira, de 26 anos, permanece internado em estado grave, em Novo Hamburgo.
A mãe do atirador, Cleris Crippa, e a cunhada dele, Priscilla Martins, também seguem em estado grave. Elas estão na UTI do Hospital Centenário, de São Leopoldo.
A sargento Joseane Muller, da Brigada Militar, e o guarda municipal Volmir de Souza, seguem em recuperação e sem previsão de alta.
Quem era o atirador
Edson Fernando Crippa, 45 anos, era registrado como motorista de caminhão. Com ele, de acordo com a BM, foram encontradas duas pistolas, duas espingardas, farta munição e carregadores de 9mm e .380.
Em coletiva de imprensa no fim da manhã de quarta-feira (23), o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, disse que o atirador já passou por quatro internações por esquizofrenia. Além disso, a irmã dele relatou à polícia que ele teria comportamento violento contra os pais.
Contudo, não havia boletim de ocorrência referente a essas agressões. Crippa também não tinha antecedentes criminais.
Em entrevista coletiva, as forças de segurança do Estado informaram que ele foi atingido em confronto pela Brigada Militar.
Zero Hora apurou que Edson era CAC (Caçador, Atirador e Colecionador) regulamentado pelo Exército. Duas das armas encontradas com ele eram registradas e legalizadas junto à Polícia Federal (PF). As outras duas estavam ilegais.
Quem eram os policiais mortos
Prestativo, educado e tranquilo. Esses são os adjetivos usados por colegas para descrever Éverton Kirsch Júnior, 31 anos, morto durante o ataque.
Kirsch estava no 3° Batalhão da Brigada Militar de Novo Hamburgo desde janeiro. Anteriormente, ele havia passado por um grupo de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. Segundo colegas, ele estava na corporação desde 2018. Ele deixa amigos, esposa e um filho de 45 dias.
— Ele era um policial totalmente dedicado, exemplar e recém tinha sido pai, o filho tinha 45 dias — lembra o comandante do 3º BPM, Alexandre Famoso.
Rodrigo Weber Volz, que teve morte cerebral confirmada na tarde desta quinta, entrou para a corporação em 2017, deixa a esposa, a enfermeira Aleísa Oliveira.
Homenagens
A Brigada Militar se manifestou por meio das redes sociais sobre a morte do soldado Kirsch. Conforme a corporação, ele atuava no 3º Batalhão de Polícia Militar, de Novo Hamburgo.
"O militar restou ferido fatalmente durante o cumprimento do dever, arriscando a própria vida pela segurança e proteção do povo gaúcho. Nesta triste data, a Brigada Militar presta sua homenagem e apoio aos familiares, amigos e colegas", diz a postagem.
O governador do Estado, Eduardo Leite, também se manifestou sobre a morte do PM:
"O soldado Everton, com apenas 31 anos, deu sua vida para proteger a sociedade gaúcha. Ele era esposo, pai de um bebê de 45 dias e, acima de tudo, um herói. Que sua coragem e dedicação nunca sejam esquecidas. Meus sentimentos à família e o desejo de rápida recuperação aos feridos", escreveu.
Medo no bairro Ouro Branco
A ocorrência assustou os vizinhos da Rua Adolfo Jaeger, no bairro Ouro Branco. Algumas residências foram evacuadas como medida de precaução para a negociação.
— Hoje foi uma noite de terror para nós, moradores do bairro Ouro Branco. Acordamos com muitos tiros, uma coisa fora do comum o que está acontecendo — relatou o morador Romoaldo da Silva Alves.
Claudete Boeno, moradora há 18 anos do bairro, em Novo Hamburgo, diz ouviu os primeiros disparos e acordou o marido ainda na noite passada. Desde então, não dormiu mais.
— Foi uma verdadeira noite de terror. Você não sabe de onde vêm os tiros. Parece que estão invadindo a sua casa — lembra.