Agora que estão no tabuleiro as principais peças do quebra-cabeças que explica a tragédia ocorrida à noite passada em Novo Hamburgo é preciso parar e pensar sobre a facilidade com que no Brasil uma pessoa pode comprar armas de diferentes calibres declarando-se um CAC (caçador, atirador, colecionador). Edson Crippa, 45 anos, o homem que matou o pai, o irmão e um soldado da Brigada Militar e deixou outros tantos feridos era até então um “cidadão de bem”.
Passou por um teste psicológico para adquirir as armas usadas no crime que transformou em pesadelo a madrugada desta quarta-feira. Passou, sabe-se lá como, porque era esquizofrênico. E jamais um esquizofrênico poderia ser caçador, colecionador ou atirador. A liberalidade da legislação e leniência (ou negligência) na avaliação de quem tem equilíbrio mental para comprar armas estão na raiz da tragédia. Por isso, é preciso repensar os critérios para a liberação da compra de armas.
Desde que a tragédia transmitida ao vivo foi chegando ao conhecimento da população começaram a surgir as falácias como resposta às críticas pela facilidade com que se compra uma arma no Brasil. Três delas:
“Ah, mas se não fosse uma arma legalizada ele poderia ter comprado no contrabando”. Poderia, mas não comprou. Passou pelo crivo do Exército. E se quisesse comprar no paralelo, a facilidade seria proporcional ao número de armas disponíveis entre os criminosos que compram ou roubam de quem adquiriu uma arma legal e raspa a numeração.
“Ah, mas se não tivesse armas de fato ele teria matado com uma faca ou um machado”. Não, não teria feito todo esse estrago, inclusive matando e ferindo brigadianos.
“Ah, assim vocês vão querer proibir os caminhões de circularem nas estradas porque um perdeu os freios e matou a delegação de remo de Pelotas”. Não, senhores e senhoras que adoram rotular de esquerdista ou comunista quem defende maior controle sobre as armas. Caminhões são feitos para transportar mercadorias. Se matam pessoas em um acidente é porque ocorreram falhas, mecânicas ou humanas. Armas só servem para matar, ainda quando usadas em legítima defesa.
A coluna se solidariza com a família do policial morto, Éverton Kirsch Júnior, que deixa a esposa e um filhinho de 45 dias. E se solidariza com a família brigadiana, que vê tombar um dos seus em um combate que não deveria ter acontecido. Os policiais foram chamados para atender o que parecia ser um simples caso de maus tratos do filho a um casal de idosos. Como imaginar que seriam recebidos por um doido com um arsenal de caçador?