O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Presença forte nas ruas: essa é a aposta tanto de Maria do Rosário (PT) quanto de Sebastião Melo (MDB) para os últimos dias de campanha em Porto Alegre. Os dois candidatos vão intensificar o contato direto com o eleitor, enquanto procuram destacar as diferenças entre os projetos nas propagandas de rádio, televisão e redes sociais.
Com atos nos bairros durante a semana e frequentemente no Parque da Redenção aos finais de semana, roteiros que se repetem desde o início da campanha, Rosário ganhou reforço para caminhada no Centro Histórico nesta terça-feira (22): a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que percorreu a Rua dos Andradas com a candidata e discursou para os militantes que acompanharam o ato.
— Nós estamos aumentando a presença de rua, diariamente há mutirões em todas as regiões da cidade, já percorremos muitos bairros. Estamos muito confiantes na tradição da esquerda do clima de chegada, e as últimas pesquisas mostram que é uma diferença (entre Melo e Rosário) que perfeitamente dá para buscar, há um clima de virada — projeta Cícero Balestro, um dos coordenadores da campanha petista.
De férias até 29 de outubro, Melo também está mais presente nas ruas. Sem compromissos do Executivo, o prefeito pretende se dedicar a participar de quantos compromissos forem possíveis até o final de semana derradeiro do pleito. O candidato realiza panfletagem em sinaleiras, caminhadas pelas ruas da Capital e faz visitas aos comércios, roteiro que se repetiu nesta terça.
— Em razão das férias, estamos intensificando os trabalhos de rua, buscando contato mais direto do Melo com o eleitor. Vai ser uma semana muito dedicada ao corpo a corpo, tanto da militância quanto do Melo. Ele vai buscar o maior número possível de agendas com as comunidades, comércio, caminhadas, em sinaleiras. Queremos mostrar mais as propostas — destaca André Coronel, coordenador-geral da campanha.
Para o final da semana, os dois preparam grandes atos finais de mobilização e concentração dos apoiadores: Melo reunirá seus militantes na sexta-feira (25), mas os detalhes da agenda ainda serão confirmados pela campanha. A certeza é que o prefeito irá usar a tarde para descansar e se preparar para o debate final, na RBS TV. Já Maria do Rosário organiza uma caravana pelos bairros de Porto Alegre durante todo o sábado (26), que vai encerrar com uma caminhada pela Cidade Baixa.
Tom belicoso nas redes
Nos últimos dias, PT e MDB têm adotado tom mais belicoso nas publicações em redes sociais. Melo passou a fazer mais provocações nos seus perfis online. Após a decisão da Justiça Eleitoral que o proibiu de reproduzir o jingle que chama a adversária de "Mariazinha" — por considerar a propaganda discriminatória e misógina por "diminuir a condição de mulher" —, Melo publicou foto com sua mãe, Dona Maria, a quem o prefeito chamou de "Dona Mariazinha" e disse ter muito respeito.
O prefeito também aproveitou vídeo publicado por Maria do Rosário, no qual ela aparece chorando ao receber mensagem de apoio do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica. Nas redes, Melo usou o trecho da adversária chorando, junto de arte com o resultado da última pesquisa AtlasIntel em que aparece na frente de Rosário.
Em relação a ideias, Melo segue expondo realizações da sua gestão e apontando que uma gestão de Rosário na prefeitura teria inchaços na máquina pública, mais impostos, menos privatizações e parcerias, além de associá-la a casos de corrupção envolvendo o PT.
— Estamos fazendo uma crítica política sobre o projeto da nossa adversária. A bem da verdade, quem começou a baixar de certa forma o nível foi a adversária, ela começou a bater no Melo no primeiro turno, a iniciativa sempre partiu do adversário. Quando tu está no campo da crítica política, no embate político, tudo certo. A questão é quando exacerba isso, nunca partiu de iniciativa nossa. Tentamos manter ao máximo a campanha propositiva — afirma Coronel.
Já Maria do Rosário tem intensificado as tentativas de colar em Melo a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, que fez menos votos do que Lula em Porto Alegre no primeiro e segundo turnos das eleições de 2022. Em peças publicitárias, a petista diz que Melo "pediu ivermectina e cloroquina na pandemia", medicamentos ineficazes para a covid-19 e defendidos como "tratamento precoce" pelo ex-presidente.
Em outra publicação, Rosário comenta a projeção de que Melo, se reeleito, poderia renunciar ao cargo para disputar o governo do Estado em 2026, afirmando que neste caso quem passaria a comandar a cidade seria Bolsonaro — já que a vice Betina Worm, do PL, assumiria o comando da Capital.
Maria do Rosário também faz críticas usando o nome do prefeito, quando diz que Melo "melou" com a população de Porto Alegre. Além disso, a campanha centraliza os ataques em mostrar pontos fracos da gestão do prefeito, apontando problemas na saúde, na educação e problemas de infraestrutura nas periferias, além da falta de manutenção do sistema de proteção contra cheias e alagamentos.
— São dois projetos em disputa, um que representa a atual gestão, que levou Porto Alegre à situação que está, que vem muito antes de enchente, e tudo isso vai continuar sendo tratado porque vamos tratar das escolhas erradas tomadas pelo prefeito. A campanha Melo fez um vídeo absolutamente misógino, tanto é que a decisão foi cassar isso, um desrespeito às mulheres — avalia Balestro.