Planejado à época de Dom Pedro II, o porto de Arroio do Sal, que agora caminha para ser construído pela iniciativa privada, tem na sua origem recente a obstinação de duas pessoas: o ex-prefeito de Passo Fundo Fernando Machado Carrion, ex-deputado federal, e o senador Luís Carlos Heinze. Carrion, que estudou o assunto em profundidade como relator da Lei dos Portos, andava para cá e para lá com um mapa embaixo do braço, tentando encontrar quem quisesse ouvi-lo sobre um projeto que à época parecia fadado ao fracasso: a construção de um porto no Litoral Norte, para concorrer com os de Santa Catarina.
O protagonismo de Heinze vem sendo reivindicado, com razão, por três companheiros de partido: o presidente de honra do PP, Celso Bernardi, o suplente do senador, Ireneu Orth, e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo. Os três ficaram incomodados na sexta-feira passada (18) quando o porto Meridional foi tema de um encontro do ministro Paulo Pimenta com industriais, na Fiergs, e Heinze não recebeu os devidos créditos.
Polo diz que testemunhou o primeiro encontro de Machado com Heinze para falar do porto. O engenheiro mostrou estudos segundo os quais o lugar mais apropriado para um porto é o que tem à frente um paredão de pedras. A proximidade com as montanhas da Serra dariam a Arroio do Sal uma condição privilegiada.
Heinze comprou a ideia e passou a defender a construção do porto, inicialmente como estrutura pública, mas nenhum governo comprou a proposta, seja por falta de dinheiro, seja porque tinham outras prioridades. Vendo que as privatizações e concessões avançavam, o senador começou a procurar empresários da região da Serra e sugerir que buscassem investidores para o projeto, cujo custo é estimado em R$ 6 bilhões.
Nem no governo de Jair Bolsonaro, do qual era aliado, Heinze encontrou o apoio necessário, mas seguiu batendo na mesma tecla. Agora, o governo Lula comprou a ideia e se comprometeu com investimentos em infraestrutura. O aporte previsto pela concessionária é de R$ 1,3 bilhão. Significa que o porto sairá mesmo? Ainda é preciso esperar pelas licenças ambientais e encontrar investidores dispostos a entrar com o dinheiro, mas o otimismo é generalizado entre os empresários.