Ninguém poderia imaginar naquela sexta-feira, 3 de maio, quando os pousos e decolagens foram suspensos, que o Aeroporto Salgado Filho só voltaria a funcionar quase seis meses depois e de forma parcial. Com a retomada dos voos comerciais, nesta segunda-feira (21), é o momento para falar das lições deixadas por um alagamento que não estava previsto no contrato com a Fraport, até porque foi inédito.
O que fazer para que o Aeroporto Salgado Filho seja protegido em caso de uma nova enchente? Como evitar que em um futuro próximo Porto Alegre fique isolada por um dilúvio semelhante ao de maio de 2024? O que aprendemos com o desastre que causou perdas de bilhões de reais para a economia do Rio Grande do Sul?
Diante do que aconteceu, é impossível não pensar que o fenômeno possa se repetir, já que as mudanças climáticas desafiam os cientistas e os gestores públicos e privados. As obras previstas para o sistema de prevenção às cheias devem evitar que um desastre dessas proporções se repita. Mas são obras de longo prazo, que terão de se somar aos remendos que começaram a ser feitos, como a recuperação dos diques e a revisão das comportas do Muro da Mauá.
O governador Eduardo Leite calcula que as novas obras demorarão no mínimo cinco anos para ficar prontas. Isso significa que ultrapassarão o seu mandato e o do presidente Lula, que terminam no início de 2027. Assim como está ocorrendo na campanha para a prefeitura de Porto Alegre, o sistema de prevenção às cheias deverá entrar com forma na campanha de 2026.
Também deverá entrar em discussão a necessidade de um novo aeroporto para ser alternativa ao Salgado Filho. Os regionais conseguiram absorver parte dos voos, mas a falta de estrutura e a neblina tornaram infernal a vida de quem precisa viajar de avião. A Base Aérea de Canoas, que nestes cinco meses foi adaptada para receber voos, só tem pista e nada mais. É um aeroporto militar, que só recebeu passageiros porque se tratava de uma emergência, mas com número reduzido de voos e uma operação com deficiências naturais.
O governo está empenhado em viabilizar a construção do Aeroporto de Vila Oliva, em Caxias do Sul, que deverá ser a alternativa ao Salgado Filho. Até lá, o aeroporto de Porto Alegre vai precisar de medidas preventivas. Surpresa, nunca mais.
Aliás, a Fraport executou as obras de recuperação que permitiram a retomada parcial dos voos, como manda o contrato de concessão. Mas será ressarcida, também com base no contrato, porque o fechamento foi decorrência de um evento imprevisível. Não é o momento para politicagem, nem dos que culpam o governo federal pela demora, nem dos que repudiam as concessões, achando que a Infraero teria feito mais rápido.