A notícia de que o presidente Lula terá de se submeter a uma nova intervenção nesta quinta-feira (12) assustou os brasileiros que torcem pela sua recuperação ou simplesmente detestam as aves de mau agouro. Em instantes, virou manchete de todos os sites de notícias, porque ninguém tinha dito, desde a internação, que esse procedimento pudesse ser necessário. Os médicos que assistem o presidente se apressaram em garantir que a “embolização das artérias meníngeas” é corriqueira para evitar sangramentos futuros.
A decisão foi tomada após os médicos constatarem que o líquido do dreno colocado na cabeça do presidente continuou sanguinolento 24 horas após a drenagem do hematoma. O normal é que no segundo dia após a cirurgia o líquido saia limpo. O médico Roberto Kalil Filho garante que se trata de um procedimento minimamente invasivo e de baixo risco.
O coordenador da área de Neurocirurgia do Hospital Mãe de Deus, Luiz Felipe de Alencastro, confirma que o procedimento é corriqueiro:
— É um procedimento de rotina, quase sempre realizado realizado depois da cirurgia de drenagem de um hematoma como este.
É importante que todas as informações sobre a saúde do presidente sejam dadas com absoluta transparência. O mesmo vale para senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores. Quem se elege pelo voto popular deve satisfação a seus eleitores. Médicos e hospitais têm o dever ético de respeitar a privacidade dos pacientes, mas cabe ao governo (ou às próprias autoridades) autorizar a divulgação de informações precisas.
A história é pródiga em tentativas de esconder da população o que se passava com governantes em tratamento médico. Nenhum mais traumático e perturbador do que o caso de Tancredo Neves, em que, em um conluio entre família, médicos, políticos e assessores, se tentou fraudar a realidade com a montagem de cenas em que um moribundo preparado para sair bem na foto era apresentado como se estivesse em franca recuperação.
Lula, justiça se faça, sempre foi transparente com seus problemas de saúde, incluindo o câncer de laringe em 2011, quando já não era mais presidente, à artrose que o obrigou a fazer uma cirurgia para colocação de prótese de quadril, passando por uma pneumonia e um problema nas cordas vocais. O mesmo ocorreu com Dilma Rousseff, em 2009, quando teve um diagnóstico de linfoma, tratou o assunto com transparência, curou-se e venceu a eleição presidencial pouco mais de um ano depois.
Outro exemplo de transparência foi dado pelo vice de Lula, José Alencar, que manteve a população informada sobre a evolução do câncer que viria a matá-lo. Governador de São Paulo, o tucano Mario Covas não escondeu dos eleitores seus problemas de saúde e nem por isso perdeu votos. Seu neto Bruno concorreu à reeleição como prefeito de São Paulo já devastado pelo câncer e, mesmo assim, foi eleito. Morreu alguns meses depois da posse e o mandato foi quase todo exercido por Ricardo Nunes, reeleito em outubro.