Após ser parcialmente engolida pela água e ficar 171 dias sem pousos e decolagens de aviões comerciais, a pista do aeroporto Salgado Filho será tocada novamente pelo trem de pouso de um aparelho desse tipo, na manhã desta segunda-feira (21). Além de aumentar a frequência de aeronaves cruzando o céu da Região Metropolitana, a reabertura do maior terminal aéreo do Rio Grande do Sul também alimenta a expectativa por desembaraço logístico e retomada econômica no Estado.
De maneira parcial, o local, que ficou 75% submerso durante a inundação de maio, começa a receber fluxo de aviões com passageiros a partir das 8h10min. Nesse horário, um avião da Azul com capacidade de transportar 174 passageiros vai pousar no local.
O economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que a retomada dos voos em Porto Alegre reativa setores de serviços, como turismo, hotelaria e bares e restaurantes. Além disso, cria ambiente para aumentar a eficiência econômica do Estado. Com a limitação de voos na Região Metropolitana até a semana passada, as pessoas tinham que se deslocar para Florianópolis ou pagar passagens mais caras. Com a volta do Salgado Filho, a possibilidade de concentrar mais renda no Estado ganha espaço, segundo o economista:
— Essa também é uma expectativa que nós temos com relação a esse ganho de eficiência e o quanto isso pode ajudar a alavancar nossa economia. Naturalmente, quando a gente tem essa circulação, essa movimentação mais intensa de pessoas, é natural que nós tenhamos a possibilidade de alavancarmos a nossa renda, de gerarmos mais esse crescimento.
Levantamento produzido pela Unidade de Estudos Econômicos (UEE) da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em julho, apontou que a interrupção do funcionamento do Salgado Filho deve gerar uma queda de aproximadamente R$ 580 milhões (cerca de US$ 107 milhões) nas exportações e importações que utilizariam a estrutura ao longo de 2024.
O presidente da Fiergs, Claudio Bier, afirma que a volta do Salgado Filho ajuda a destravar a indústria e a economia como um todo do Estado. Com maior número de voos circulando no Estado, aumenta o fluxo de negócios, segundo o dirigente. Além disso, é uma sinalização importante para a retomada das exportações:
— Hoje nós estamos com uma dificuldade, nós estamos exportando para outros Estados. Com esse movimento todo ficando aqui, gera mais emprego e mais renda aqui no nosso Estado.
Reorganização
Dados da Fraport mostram evolução gradativa no número de voos previstos para o terminal nessa operação parcial. Nesta segunda-feira, são 71 viagens. Daqui a duas semanas, esse volume sobe para 122 pousos e decolagens. Antes da inundação, com funcionamento 100% do aeroporto, a média diária de voos era de 140 a 160, segundo a Fraport. Na semana passada, o diretor de operações da Fraport, Fabricio Cardoso, afirmou que o crescimento de voos mostra o interesse pelo terminal.
O presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura (Câmara Log), Paulo Menzel, afirma que é necessário uma reorganização para retomar patamares de operação parecidos com o período pré-enchente:
— O próprio usuário, tanto de passageiros como de carga, precisa de novo se reorganizar. Assim como ele se reorganizou para procurar outras opções quando o Salgado Filho fechou, nós precisamos efetivamente agora dar tempo ao tempo para que o usuário se reorganize também e possa voltar a usar a pleno o Salgado do Filho.
Serviço
Horário de funcionamento
Nesta primeira etapa de funcionamento, os voos serão realizados entre 8h e 22h. Após esse horário e durante a madrugada, as equipes seguirão com trabalhos de reparo da pista, visando o próximo passo da retomada, que ocorre em dezembro. No entanto, o terminal funcionará durante 24 horas.
Frequência de voos
No primeiro dia, serão 71 voos (pousos e decolagens), transportando cerca de 9 mil passageiros. No dia 28 de outubro, esse número sobe para para 98 — com aproximadamente 15 mil passageiros. Já no dia 4 de novembro, o número de operações salta para 122, comportando cerca de 16 mil usuários.
Embarque e desembarque
O check-in e o despacho de bagagens seguirá na área internacional, no piso 2. O acesso mais próximo será pela porta 5.
O embarque será realizado no local de voos domésticos, no terceiro piso. Já o desembarque volta ao local oficial, no primeiro piso. Os horários para esses procedimentos voltarão a ficar sob responsabilidade das companhias aéreas a partir de segunda-feira. A Fraport recomenda que os passageiros cheguem com uma antecedência de duas horas antes do voo. Na prática, os horários voltam a patamares parecidos com os de antes da inundação.
A LATAM também orienta que os passageiros de voos domésticos se apresentem no aeroporto com duas horas de antecedência à decolagem.
A GOL destaca que o atendimento volta a ocorrer “normalmente como era antes da enchente”. O check-in será sempre encerrado uma hora antes da decolagem e o processo será aberto três horas antes do voo.
A Azul também informa que o trâmite “volta aos padrões normais de check-in e embarque”. O check-in fica disponível a partir de três horas antes do voo e se encerra uma hora antes da partida nos balcões de atendimento nos voos nacionais.
As companhias também oferecem o check-in online, que facilita o processo.
Estacionamentos
Além do sistema de uso do meio fio via tarifa por tempo, os quatro estacionamentos do terminal (edifícios-garagem 2 e 3 e os dois descobertos) estarão funcionando.
Serviços e estabelecimentos comerciais
Na parte de operações comerciais, 70% dos lojistas que haviam antes da enchente já estão prontos para operar. Além disso, esses serviços terão incremento nas próximas semanas, segundo a Fraport.
Área de pista
A operação ocorrerá em 1.730 metros de pista no formato parcial. Essa extensão é uma parcela dos 3.200 metros originais. No pátio um, seis dos 16 pontos de embarque vão operar.
O Salgado Filho terá condições de atender até 128 operações diárias nessa primeira etapa. Hoje, em média, a Base Aérea de Canoas recebe 22 operações por dia. Antes da enchente, o aeroporto de Porto Alegre recebia em média entre 140 e 160 operações diariamente.