Antecipado pelo assessor especial Celso Amorim, o veto brasileiro à entrada da Venezuela no Brics, o bloco econômico que começou com Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e está em fase de expansão, é um sinal de maioridade diplomática. Não há como defender a entrada da Venezuela enquanto o ditador Nicolás Maduro estiver dando as cartas, fraudando eleições, desrespeitando os direitos humanos e censurando a imprensa. O presidente Lula, que já foi o melhor amigo da Venezuela, está até hoje esperando pela ata das últimas eleições que a Comissão Nacional Eleitoral diz que Maduro venceu.
Dito isso, é impossível ignorar a contradição em relação a outros parceiros, incluindo a Rússia da formação original. A Rússia de Putin só difere da Venezuela de Maduro porque é um país rico e poderoso do ponto de vista militar. Mas também é uma ditadura que frauda eleições, não permite a liberdade de imprensa e desrespeita os direitos humanos. A China, igualmente. Nenhum país deixa de negociar com a maior potência da Ásia, mas todos sabem que é, sim, uma ditadura.
No ano passado, foram aceitos como parceiros Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes. O governo dos aiatolás do Irã, que apoia terroristas e não tem respeito pelas mulheres, não é uma companhia com quem um democrata tenha prazer em dividir uma mesa. A ditadura saudita da mesma forma, haja vista o que faz com os seus adversários. Nesse grupo, Maduro não chega a parecer anormal.
Foi para tentar ser aceito que Maduro desembarcou de surpresa em Kazan, nesta terça-feira (22), primeiro dia da reunião de cúpula do Brics. Mesmo tendo o apoio da poderosa Rússia, não deverá ser desta vez que o ditador venezuelano ganhará a carteirinha de sócio, a menos que consiga virar o jogo nas próximas horas. Mas há outros tiranos na fila que poderão ganhar esse privilégio, ampliando as contradições no grupo que tenta se contrapor à influência dos Estados Unidos e da União Europeia.
O presidente Lula foi obrigado a participar da reunião por videoconferência por causa do acidente em que caiu e machucou a cabeça no último sábado (19). Os médicos recomendaram que evitasse viagens longas e ficasse em Brasília para poder fazer exames de acompanhamento da evolução do traumatismo.