Prestativo, educado e tranquilo. Esses são os adjetivos usados por colegas e amigos para descrever Éverton Kirsch Júnior, 31 anos. Ele foi uma das vítimas do tiroteio ocorrido em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, entre a noite de terça (22) e a madrugada desta quarta-feira (23). O policial atuava na ocorrência e foi morto em serviço.
Kirsch estava no 3° Batalhão da Brigada Militar (BPM) de Novo Hamburgo desde janeiro. Anteriormente, ele havia passado por um grupo de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana. Segundo colegas, ele estava na corporação desde 2018.
Conforme a Brigada Militar, o soldado morreu após levar um tiro na cabeça enquanto atendia a ocorrência. Ele morreu no local do crime. Kirsch deixa amigos, esposa e um filho de 45 dias.
Segundo amigos, Kirsch era natural de Novo Hamburgo, mas vivia com a família em Canoas. Ele era filho único, se formou em Direito pela Universidade Feevale e sempre sonhou em atuar como policial.
— Ele sempre quis ser policial. Assim que soube que passou no concurso, de imediato pediu o desligamento do estágio para ir para a Brigada Militar — conta Marcos Rosa, 37 anos, amigo e ex-colega de faculdade e de estágio de Kirsch.
Amigo do agente há cerca de uma década, Gustavo Oliveira, 28 anos, conversou pela última vez com Kirsch por volta do meio-dia de terça. Na mensagem, eles brincavam sobre o ambiente de trabalho. Os dois foram colegas por cerca de um ano e meio em um escritório de advocacia de direito previdenciário.
— Ele era muito preocupado com os outros. Sempre que via alguém passando por alguma dificuldade, ele falava com a pessoa, se colocava à disposição. Essa, na minha opinião, era a melhor qualidade dele — diz.
"Profissional exemplar"
Na manhã desta quarta, profissionais da segurança pública se reuniram na sede do 3° Batalhão da Brigada Militar (BPM) de Novo Hamburgo, a cerca de 600 metros de onde ocorreu o crime.
Entre comentários sobre o caso, realizados em entrevista coletiva, o comandante do 3º BPM, Alexandre Famoso, destacou que Kirsch era um profissional centrado e esforçado.
— Ele era um policial totalmente dedicado, exemplar e recém tinha sido pai, o filho tinha 45 dias — ressaltou.
Minutos antes da reunião, a colega de farda Karina Doberstein, 32 anos, lamentava a morte do policial. Eles se conheciam há cerca de um ano, quando o agente passou a atuar em Novo Hamburgo.
— Aqui na Brigada, ele vai fazer muita falta. É um sentimento de luto. Quando perdemos um colega, é parte de nós que se vai.
Karina ainda conta que Kirsch era corajoso e prestativo. Ao mesmo tempo, tinha um coração grande e era tranquilo.
— Há poucos meses, ele havia se envolvido em uma ocorrência em que se mostrou um verdadeiro herói. Ele participou do salvamento de um bebê, no qual ele sofreu um acidente. Mesmo ferido, priorizou o bebê. Ele ficou muito emocionado com essa ocorrência, até porque a mulher dele já estava grávida — acrescentou a colega, frisando esse como um dos momentos mais marcantes da atuação do policial no batalhão.
O sentimento de luto sentido pelos policiais militares nesta manhã também foi compartilhado pelo secretário da Segurança Pública, Sandro Caron, durante a entrevista coletiva.
— Toda vez que nós perdemos um integrante da segurança pública, isso é um atentado contra o Estado — afirmou, na ocasião.
Nas redes sociais, a Brigada Militar também se manifestou sobre a morte de Kirsch: "Herói tombado no cumprimento do dever. Falecido ao defender a sociedade gaúcha", escreveu a corporação em publicação no Instagram.
Despedida
O velório de Éverton Kirsch Júnior será a partir das 23h desta quarta-feira (23), no Crematório e Cemitério Parque Jardim da Memória, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo. A cerimônia de despedida está prevista para as 11h de quinta-feira (24), seguida de sepultamento no mesmo local.
O crime
A Brigada Militar foi acionada por volta das 23h de terça (22) por um casal de idosos no bairro Ouro Branco, de Novo Hamburgo, que relatou ter sofrido maus-tratos do filho. Ao avistar os policiais chegando ao local, Édson Fernando Crippa, 45 anos, efetuou cerca de 300 disparos de pistola calibre 9mm e 380. Os tiros atingiram pelo menos nove pessoas, entre familiares, agentes da BM e da Guarda Municipal.
Além de Éverton, morreram também o pai do atirador, Eugênio Crippa, 74 anos, e o irmão, Everton Crippa, 49. Outros seis feridos estão internados, sendo quatro em estado grave.
A troca de tiros com os agentes se estendeu durante a madrugada desta quarta. Houve pelo menos dois momentos de confronto. Crippa permaneceu dentro de casa por cerca de nove horas sob cerco da polícia. Por volta de 8h30min, os policiais militares entraram na casa e constataram a morte do atirador. Segundo a polícia, não há sinais de que ele tenha tirado a própria vida. Ainda não se sabe em que momento exatamente ocorreu a morte.