Em um caso que teve forte repercussão no Estado, o empresário mineiro Samuel Eberth de Melo, 41 anos, passou nove dias desaparecido antes de ser encontrado morto, em 11 de junho, em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. O homem, que tinha uma revendedora de veículos e veio ao RS para encontrar um parceiro comercial, acabou nunca mais retornando para Belo Horizonte. Em agosto, dois homens viraram réus pela morte, que teria ocorrido para que ficassem com o lucro obtido na venda de carros que pertenciam a vítima. Nesta terça-feira (26), a Justiça gaúcha informou que o processo segue em andamento e aguarda manifestação de defesa dos envolvidos. A dupla acusada segue presa preventivamente.
Diego Gabriel da Silva, 29, e Wellington Luiz Rodrigues da Silva, 23, se tornaram réus em 2 de agosto, após serem denunciados pelo Ministério Público do Estado (MP). Eles respondem por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, para assegurar impunidade de outros crimes e recurso que dificultou a defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Os dois seriam familiares, segundo a investigação.
Na tarde desta terça, o Tribunal de Justiça (TJ) informou que o processo se encontra em "fase instrutória, após recebimento da denúncia", e aguarda a manifestação da defesa dos réus. Depois, seguirá para a fase de instrução processual, com o depoimento de testemunhas e o interrogatório dos réus.
Sobre o andamento do processo, o promotor Camilo Vargas Santana, do Ministério Público em Santo Antônio da Patrulha, reforçou que a acusação tem provas fartas da participação da dupla no crime. Segundo ele, a denúncia está "baseada em excelente investigação da Polícia Civil, tendo sido colhidas provas robustas acerca do envolvimento dos dois acusados no crime".
"Com o início da instrução processual, o Ministério Público espera confirmar os elementos colhidos, para que os réus sejam submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri e restem condenados pelos graves crimes cometidos", disse em nota.
O que diz a defesa
Quando foi ouvido durante a investigação, Diego Gabriel negou que tenha envolvimento no crime e alegou que o mineiro teria viajado para a Serra.
Nesta terça, a advogada Thais Rodrigues, que atende os dois réus, se manifestou por meio de nota. Confira:
"Atualmente o processo se encontra com prazo para a defesa apresentar resposta. Todavia, em análise aos autos, pode-se perceber que até o presente momento existem expedientes sigilosos em que a defesa não possui acesso.
Em decisão recente, foi deferido acesso a expedientes que ainda estavam sob sigilo, respeitando assim o princípio do contraditório e da ampla defesa e deferindo novo prazo para análise dos expedientes e manifestação.
A defesa busca pelo esclarecimento dos fatos, mas principalmente pelo respeito ao devido processo penal, para que seja disponibilizando aos acusados o direito de um julgamento justo."
Vítima e réu seriam amigos e sócios
A investigação policial indicou que o crime foi cometido por motivo torpe, com uso de emboscada ou recurso que dificultou a defesa da vítima e também para assegurar vantagem de outro crime. Isso porque, segundo a apuração, o parceiro comercial teria decidido assassinar Melo para ficar com o lucro obtido com os veículos enviados pelo empresário ao Rio Grande do Sul.
O "sócio" da vítima seria Diego Gabriel, mas Wellington Luiz também teria participado do crime. Segundo a investigação, Melo e Diego Gabriel se conheceram durante a negociação de veículos, se tornaram amigos e parceiros comerciais. Com o contato entre eles, o réu teria adquirido a confiança do mineiro, que, em razão disso, passou a enviar veículos ao RS para que fossem negociados pelo "sócio". A estimativa é de que Melo tenha repassado, em uma última leva, pelo menos 44 veículos, com valor estimado em R$ 5 milhões.
Segundo amigos do mineiro, o empresário mantinha a revendedora de veículos em Contagem, em Minas Gerais, há 14 anos. Com a parceria, Diego Gabriel ficou responsável por intermediar a venda de carros no RS. Pelo relato de pessoas próximas a vítima, Melo estava acostumado a vir ao Estado e já teria viajado para o Sul em outras oportunidades, também para tratar de negócios com o parceiro comercial.
No entanto, em determinado momento, passou a desconfiar das informações repassadas pelo "sócio" e a suspeitar de um golpe. Decidiu pegar um avião e vir ao RS, pessoalmente, verificar a situação.
Nove dias de sumiço
Melo chegou ao Estado no dia 1º de junho e se hospedou em um hotel em Novo Hamburgo, que estaria reservado até o dia 4, um domingo. No entanto, parou de responder mensagens de familiares já na sexta, dia 2. O último contato teria sido feito por uma mensagem de áudio enviada a namorada, em que Melo disse que não estava achando os carros que tinha enviado e estava desconfiado. Por fim, afirmou que iria a Santo Antônio da Patrulha junto do parceiro.
Ao tomar ciência do caso, forças de segurança do Estado passaram a fazer diligências para localizá-lo, inclusive realizando buscas em região de mata do Litoral Norte onde o mineiro teria estado. Ele só foi encontrado em 11 de junho, nove dias após desaparecer. O corpo estava sob uma lona, oculta em caliças e telhas, próximo de um riacho, em Santo Antônio da Patrulha.
Câmeras flagraram réu
Durante o trabalho policial, as equipes encontraram imagens que mostram um homem comprando duas pás, uma enxada, três metros de lona e um par de luvas na tarde do dia 2, numa loja de Santo Antônio da Patrulha. Os investigadores identificaram esse comprador como sendo Diego Gabriel. A nota da compra, no valor de R$ 234,20, foi apreendida.
A suspeita de policiais é de que o intuito fosse enterrar o corpo da vítima, mas que os réus não conseguiram fazer isso. A lona apreendida junto ao corpo, segundo a polícia, tinha exatamente a mesma metragem da que foi comprada na loja.