Correção: Diego Gabriel da Silva tem 29 anos e não 31 como publicado entre 12h36min de 6 de julho e 11h40min de 1º de agosto. O texto abaixo está corrigido.
A Polícia Civil encaminhou ao Judiciário a primeira etapa do inquérito sobre o assassinato do empresário Samuel Eberth de Melo, 41 anos. O mineiro ficou nove dias desaparecido, após viajar ao Rio Grande do Sul para se encontrar com um parceiro comercial na venda de veículos, e foi encontrado morto em 11 de junho. O "sócio" dele, Diego Gabriel da Silva, 29, e outro investigado — que não teve o nome divulgado até o momento — foram indiciados pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver.
Segundo a delegada Marcela Ehler, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo, a investigação concluiu que o crime foi cometido por motivo torpe, com uso de emboscada ou recurso que dificultou a defesa da vítima e também para assegurar vantagem de outro crime. Isso porque, segundo a apuração, o parceiro comercial teria decidido assassinar Melo para ficar com o lucro obtido com os veículos enviados pelo empresário ao Rio Grande do Sul.
Além do assassinato, os dois também responderão pela ocultação de cadáver. O corpo de Melo só foi encontrado após nove dias de busca. Ele estava em uma área em Santo Antônio da Patrulha, escondido com o uso de uma lona e coberto com caliças e telhas.
Durante a apuração, a polícia encontrou imagens nas quais um homem aparece comprando duas pás, uma enxada, três metros de lona e um par de luvas às 15h15min do dia 2, numa loja de Santo Antônio da Patrulha. Os investigadores identificaram esse comprador como sendo Silva. A nota da compra, no valor de R$ 234,20, foi apreendida.
A suspeita é de que o intuito fosse enterrar o corpo da vítima, mas que eles não tenham conseguido fazer isso. A lona apreendida junto ao corpo, segundo a polícia, tinha exatamente a mesma metragem da que foi comprada na loja.
Silva foi indiciado também por porte ilegal de arma de fogo — Melo foi assassinado com nove disparos nas costas. A conclusão da polícia foi de que Silva decidiu arquitetar o assassinato do parceiro comercial e contou com a ajuda de um comparsa — o outro homem preso é familiar dele —, para poder ficar com o lucro obtido com os veículos. A polícia suspeita que o empresário tenha sido vítima de estelionato.
Melo e Silva se conheceram durante a negociação de veículos e acabaram se tornando amigos e parceiros comerciais. Silva teria adquirido a confiança do empresário mineiro. Em razão disso, veículos passaram a ser enviados ao RS para que fossem negociados por ele. A estimativa é de que Melo tenha repassado, numa última leva, pelo menos 44 veículos, com valor estimado em R$ 5 milhões.
A investigação segue em aberto, apurando delitos como estelionato, lavagem de dinheiro e extorsão, por isso nessa primeira etapa do inquérito a polícia não indiciou o suspeito por esse tipo de crime. As autoridades buscam também localizar todos os veículos que foram remetidos ao RS. Nesta quinta-feira (6), a Polícia Civil informou que Silva foi alvo de nova ação, por suspeita de, mesmo preso, estar extorquindo pessoas do lado de fora. A esposa dele e um companheiro de cela também foram presos.
Contraponto
Quando foi ouvido durante a investigação, Silva negou que tenha envolvimento no crime. GZH tenta contato com a defesa dos presos. Em manifestação anterior, a advogada Thais Rodrigues, que representa os dois investigados, negou que eles tenham tido participação no desaparecimento e homicídio. Em relação a Diego Gabriel da Silva, disse que ele "se declarou inocente de todas as imputações" e que alegou que "não possuía nenhum desacordo comercial com a vítima".
Do sumiço à localização do corpo
Quando Melo desapareceu, a polícia foi informada por meio do relato de familiares que ele havia se hospedado em Novo Hamburgo, e tinha deixado de responder as mensagens na tarde da sexta-feira, dia 2. A informação inicial era de que ele tinha viajado ao Estado para buscar 11 veículos com um parceiro comercial. Uma das primeiras medidas foi refazer o trajeto dele no RS. O fato de ele não ter familiares e nem uma rotina estabelecida no Estado tornava a apuração mais complexa.
O empresário chegou ao RS de avião, então uma das possibilidades era que ele estivesse usando um dos veículos que havia enviado para comercializar ou estivesse se deslocando na companhia do parceiro comercial. Por meio de imagens de câmeras, a polícia descobriu que eles realmente estiveram juntos, chegaram a almoçar e visitaram algumas garagens onde havia carros à venda. Em áudios enviados à família, o mineiro indicou que estava descontente com a situação que havia encontrado em Novo Hamburgo. Naquele primeiro momento, o foco da polícia era encontrar Melo.
Quando foi ouvido, Silva alegou que o mineiro havia viajado para a Serra. Ao longo da apuração, segundo a polícia, ele parou de colaborar. A possibilidade de um sequestro, por exemplo, perdeu força, já que não houve pedido de resgate. As equipes foram divididas entre uma que fazia as buscas ao empresário e outra com foco num possível crime. Silva foi preso ainda no primeiro fim de semana após o sumiço, na casa que mantinha em Santo Antônio da Patrulha. Logo depois, foi detido o homem apontado como comparsa.
Ainda assim, os policiais seguiam sem respostas para o paradeiro do empresário. A operação de busca, que chegou a reunir mais de cem policiais, contou com apoio da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros. Uma das informações recebidas apontava para uma casa abandonada em Santo Antônio da Patrulha. Todas as casas nessa situação foram reviradas e, dentro de uma delas, foi encontrado um par de óculos. Um dos agentes identificou o acessório como sendo o mesmo usado por Melo. As buscas seguiram ao longo dos dias, mas nenhuma outra pista foi achada.
No fim de semana, quando as equipes já estavam exaustas, houve a decisão de fazer uma nova procura, focada no entorno da casa onde tinham sido encontrados os óculos. Já durante a noite, um dos policiais deparou com uma lona, oculta sob caliças e telhas, próximo de um riacho. Com a chegada do IGP, houve a confirmação de que se tratava do corpo de Melo.