Correção: Diego Gabriel da Silva tem 29 anos e não 31 como publicado entre 11h15min de 6 de julho e 11h50min de 1º de agosto. O texto abaixo está corrigido.
Durante a segunda fase da investigação do assassinato do empresário mineiro Samuel Eberth de Melo, 41 anos, a Polícia Civil deparou com um possível novo crime: extorsão. Conforme a apuração, Diego Gabriel da Silva, 29, que já estava preso pelo homicídio, estaria ameaçando pessoas do lado de fora da cadeia para obter vantagens financeiras.
Além de Silva, que teve nova prisão preventiva decretada, a esposa dele e um companheiro de cela também são investigados.
Segundo a delegada Marcela Ehler, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo, a polícia descobriu que o preso pelo assassinato estava extorquindo moradores da Região Metropolitana por meio do WhatsApp.
— Exigiam valores ou transferência de veículos, a todo tempo ameaçando as vítimas e suas famílias. Uma das vítimas cedeu às ameaças e transferiu veículos e (fez) Pix — explica a delegada.
A polícia cumpriu mandados de busca na cela onde Silva estava mantido e na residência dele, em Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte. As ações no sistema prisional contaram com apoio da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
A esposa de Silva também foi presa de forma preventiva na ação. Conforme a polícia, ela é suspeita de integrar o mesmo esquema e estava em posse de um veículo, que teria sido transferido por uma das vítimas. A mulher seria a responsável, de acordo com a apuração, por realizar as ações do lado de fora da cadeia, como trâmites inclusive em cartórios.
Já o preso, que estava na mesma cela de Silva, é suspeito de participar do esquema fazendo as ameaças contra as vítimas. A polícia identificou quatro casos nos quais os três são suspeitos de tentar obter vantagens.
Segundo a apuração, o trio enviava mensagens por aplicativo e chegava a encaminhar imagens em tempo real das residências e dos locais de trabalho das vítimas. Aparelhos celulares foram apreendidos dentro da cela onde estavam os presos. Também foi recolhido o veículo que estava com a esposa de Silva.
Embora o caso não esteja vinculado diretamente ao homicídio do empresário, por se tratar de outro crime, o diretor do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, delegado Mario Souza, afirma que isso reforça a participação dos investigados em ações criminosas.
— Para nós, chamou a atenção e surpreendeu a continuidade delitiva dele. Praticavam extorsões em valores variados: R$ 1 mil, R$ 5 mil, R$ 10 mil — afirma o delegado.
Investigação continua
Em relação ao caso do empresário mineiro, a polícia continua investigando desdobramentos do crime. Segundo a delegada Marcela, na última segunda-feira (4), Silva e outro investigado foram indiciados pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver. Mas a polícia continua apurando, por exemplo, o destino dos veículos enviados pelo empresário ao Rio Grande do Sul. Os automóveis variam entre modelos populares e de luxo, num total estimado em R$ 5 milhões.
Melo desapareceu no início de junho, após viajar de Belo Horizonte para Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, para encontrar com o parceiro comercial. De acordo com familiares, ele estava desconfiado sobre as negociações que vinham sendo realizadas. Em razão disso, teria ido, segundo a polícia, até Santo Antônio da Patrulha, no Litoral Norte, acompanhado do sócio. Melo ficou desaparecido por nove dias, até seu corpo ser encontrado.
Durante a apuração, foram localizadas imagens nas quais um homem aparece comprando duas pás, uma enxada, três metros de lona e um par de luvas às 15h15min do dia 2, numa loja de Santo Antônio da Patrulha. Os investigadores identificaram esse comprador como sendo Silva. A nota da compra, no valor de R$ 234,20, foi apreendida.
A polícia suspeita que neste momento o empresário já pudesse estar morto — desde o começo da tarde ele não respondia mais ao telefone. A lona adquirida tem exatamente a mesma metragem da que enrolava o cadáver, conforme a polícia. As pás foram encaminhadas para análise pericial.
Além disso, durante as buscas na casa do suspeito foram apreendidos dois carregadores de pistola com munição. No mesmo dia, foi realizada análise do Instituto-Geral de Perícias (IGP) em dois veículos, nos quais foram encontrados vestígios compatíveis com sangue.
Contraponto
Na quarta-feira (12), a advogada Thais Rodrigues, que representa o casal, entrou em contato com GZH e informou que ingressou com pedido de liberdade para a esposa de Silva, e aguarda análise do Judiciário.
— Ela nega qualquer tipo de extorsão e dentro dos autos não há indícios da participação dela. Nenhuma das vítimas afirma que foi ameaçada ou extorquida por ela — afirma.
Sobre Silva, a advogada informou que ainda aguarda o cliente prestar depoimento à polícia a respeito das acusações de extorsão para poder se manifestar. Ainda sobre o caso da morte do empresário mineiro, Thais afirmou que obteve decisão do Tribunal de Justiça para permitir que ela acesse os autos do processo, e possa futuramente se manifestar sobre o caso.
Quando foi ouvido, Silva negou ter envolvimento com o sumiço e morte do sócio.
Como a polícia localizou o corpo
Quando Melo desapareceu, a polícia foi informada por meio do relato de familiares que ele havia se hospedado em Novo Hamburgo e tinha deixado de responder as mensagens na tarde da sexta-feira, dia 2. A informação inicial era de que ele tinha viajado ao Estado para buscar 11 veículos com um parceiro comercial. Uma das primeiras medidas foi refazer o trajeto dele no RS. O fato de ele não ter familiares e nem uma rotina estabelecida no Estado tornava a apuração mais complexa.
O empresário chegou ao RS de avião, então uma das possibilidades era de que ele estivesse usando um dos veículos que havia enviado para comercializar ou estivesse se deslocando na companhia do parceiro comercial. Por meio de imagens de câmeras, a polícia descobriu que eles realmente estiveram juntos, chegaram a almoçar e visitaram algumas garagens onde havia carros à venda.
Em áudios enviados à família, o mineiro deixou transparecer que estava descontente com a situação que havia encontrado em Novo Hamburgo. Naquele primeiro momento, o foco da polícia era encontrar Melo.
Quando foi ouvido, Silva alegou que o mineiro havia viajado para a Serra. Ao longo da apuração, segundo a polícia, ele parou de colaborar. A possibilidade de um sequestro, por exemplo, perdeu força, já que não houve pedido de resgate. As equipes foram divididas entre uma que fazia as buscas ao empresário e outra com foco num possível crime.
Silva foi preso ainda no primeiro fim de semana após o sumiço, na casa que mantinha em Santo Antônio da Patrulha. Logo depois, foi preso o homem apontado como comparsa.
Ainda assim, os policiais seguiam sem respostas para o paradeiro do empresário. A operação de busca, que chegou a reunir mais de cem agentes, contou com apoio da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros.
Uma das informações recebidas apontava para uma casa abandonada em Santo Antônio da Patrulha. Todas as residências nessa situação foram reviradas e, dentro de uma delas, foi encontrado um par de óculos. Um dos agentes identificou o acessório como sendo o mesmo usado por Melo. As buscas seguiram ao longo dos dias, mas nenhuma outra pista foi achada.
No fim de semana, quando as equipes já estavam exaustas, houve a decisão de fazer uma nova procura, focada no entorno da casa onde tinham sido encontrados os óculos. Já durante a noite, um dos policiais deparou com uma lona, oculta sob caliças e telhas, próximo de um riacho. Com a chegada do IGP, houve a confirmação de que se tratava do corpo de Melo.