Após sete dias ininterruptos de buscas e trabalho de inteligência, uma ação integrada de Polícia Civil, Instituto-Geral de Perícias (IGP), Brigada Militar e Corpo de Bombeiros conseguiu localizar o corpo do empresário mineiro Samuel Eberth de Melo, 41 anos, em Santo Antônio da Patrulha, no litoral norte gaúcho. A vítima foi localizada no domingo (11), perto de um riacho, que fica no mesmo terreno de uma casa abandonada, na zona rural do município.
Nesta segunda-feira (12), em coletiva de imprensa, a Polícia Civil confirmou que o parceiro comercial de Melo, Diego Gabriel da Silva, teve a prisão preventiva decretada — ele estava preso temporariamente desde 4 de junho. Um homem apontado como comparsa dele, que não teve o nome divulgado, também foi detido.
Como a polícia localizou o corpo do empresário
A informação de que o corpo estava em uma casa abandonada veio por meio de uma denúncia anônima, conforme o delegado Mario Souza, diretor do Departamento Estadual de Homicídios. A partir disso, foram realizadas vistorias em todos os imóveis desse tipo em Santo Antônio da Patrulha.
— Era uma área rural enorme e de difícil acesso — explicou Souza.
Inicialmente, a área de busca abrangia desde Novo Hamburgo — cidade do Vale do Sinos onde Melo havia se hospedado — até o Litoral Norte. Com o avanço da investigação e ajuda do rastreio dos últimos sinais do celular da vítima, foi possível delimitar o perímetro para a área de Santo Antônio da Patrulha, onde os trabalhos duraram três dias.
Foram 12 policiais envolvidos diariamente nas buscas em uma área de 34 quilômetros.
Os últimos passos da vítima
De acordo com a investigação feita pela Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), o empresário chegou ao Estado numa quinta-feira, 1º de junho. O hotel estaria reservado até domingo, 4 de junho. No entanto, ele parou de responder mensagens de familiares por volta das 13h30min de sexta-feira, dia 2, data em que a polícia acredita que tenha sido morto.
— Desde o dia 3 de junho, quando foi feito o relato do desaparecimento do Samuel, nós fomos seguindo os rastros que ele e o assassino deixaram no caminho. Câmeras de videomonitoramento, passagens por pedágio, e a própria rede social da vítima davam conta de que ela estava em Santo Antônio da Patrulha na sexta-feira (dia 2). Reconhecemos um ponto da cidade que nos levou até lá e daí passamos a destrinchar as buscas — afirmou a delegada Marcela Ehler, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo.
Inconsistências no depoimento do parceiro comercial
Marcela acrescenta que, desde o depoimento do suspeito, foram encontradas diversas inconsistências, o que foi guiando a investigação. Cães farejadores e bombeiros militares se uniram aos brigadianos e policiais civis durante o trabalho. Um dos animais conseguiu chegar à localização do corpo, e um policial civil observou que os óculos encontrados perto dali eram os mesmos que Melo usava em uma das fotos nas redes sociais.
O IGP ainda ressaltou que o uso de luminol — substância que auxilia a perícia a verificar a existência de sangue — foi fundamental. No caso em questão, foram constatados rastros sanguíneos em uma bananeira próxima ao local onde o corpo estava.
Outro fator que contribuiu para a investigação foi o trabalho da inteligência com as testemunhas. Pelos relatos, a polícia conseguiu descobrir que o parceiro comercial do empresário havia comprado lonas e duas pás na região.
— (O empresário) Deve ter sido levado possivelmente rendido e, preliminarmente, sofreu nove tiros nas costas, conforme o IGP. Possivelmente tentaram cavar, mas como o chão era muito duro, o deixaram encostado em um bananal — presume o delegado Mario Souza.
Cobrança por dívida de R$ 5 milhões
Conforme o delegado Mario Souza, a principal linha de investigação é de que o assassinato tenha ocorrido em razão de uma dívida de cerca de R$ 5 milhões decorrente de veículos fornecidos pelo empresário.
O chefe de Polícia do Estado, Fernando Sodré, afirmou que Melo já havia mandado 25 automóveis para o Rio Grande do Sul, que foram vendidos e tiveram o pagamento efetuado. No entanto, após o envio de mais 44, o dinheiro não foi pago, o que teria motivado a vinda do mineiro ao Estado.
Antes de sumir, o empresário chegou a mandar mensagem de áudio para a namorada, contando que estava desconfiado, porque não estava achando os carros que tinha enviado ao RS. A polícia não descarta a possibilidade de haver mais veículos desaparecidos.
Na segunda fase da investigação, a delegada Marcela Ehler dará enfoque à motivação patrimonial do crime.
— Ainda vamos apurar um possível estelionato e até mesmo lavagem de dinheiro envolvendo o caso — disse.
Contraponto
A advogada Thais Rodrigues, que representa os dois presos, nega que eles tenham participação no desaparecimento. Em relação a Diego Gabriel da Silva afirma que ele "se declarou inocente de todas as imputações" e que "afirma que não possuía nenhuma desacordo comercial com a vítima". Em relação ao outro preso, argumenta que "este rapaz nunca realizou nenhum tipo de negócio com a vítima e também se declarou inocente".