Próximo de completar quatro meses, o ataque a tiros que resultou na morte dos irmãos Marina Maciel dos Santos e João Francisco Maciel dos Santos, com 16 e 14 anos na época do fato, em Porto Alegre, permanece uma incógnita. Família e comunidade escolar do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, onde os dois adolescentes estudavam, ainda aguardam por esclarecimentos. Segundo a Polícia Civil, há etapas da investigação ainda pendentes.
Responsável pelo inquérito, a delegada Clarissa Demartini aponta que o trabalho da 1ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP) prossegue em andamento com uma série de diligências já realizadas, porém com etapas ainda a serem cumpridas. Clarissa informa que as informações permanecem mantidas em sigilo para preservar a integridade das apurações.
— O cenário onde ocorreu este crime é um ambiente no qual já aconteceram outros ataques semelhantes, o que nos faz olhar com uma atenção maior para este fato, ao invés de olharmos isoladamente. A polícia trabalha para responsabilizar, não apenas quem atirou, mas também quem ordenou ou autorizou este crime — afirma a delegada.
Até o momento ninguém foi preso, tampouco foi apontado como possível autor do crime. Além de estender o luto da mãe, a ausência de um desfecho também preocupa a comunidade escolar que compartilhou momentos importantes da vida de Marina e João Francisco.
Família se mudou
A comerciária Carla Maciel de Farias, 39 anos, que perdeu dois de seus três filhos em um único episódio de violência, conta que se mudou da velha casa onde a família viveu por cerca de cerca de quatro anos.
— Até a mancha na parede, quando meu filho matou uma barata me fazia lembrar das travessuras. Me dava vontade de chorar. Nem acredito que briguei com meu menino por uma coisa tão boba e hoje ele não está mais aqui com a gente — descreve.
Marina e João Francisco, ou Princesa e Bzão, como a mãe costumava chamá-los carinhosamente, saíram de casa para comprar refrigerante, bolo e salgadinhos, em 19 de abril. Haviam passado poucos minutos das 21h, quando decidiram caminhar juntos até uma padaria localizada próximo à esquina da Avenida Herval com a Rua 22 de Julho, no bairro Cascata. Os irmãos andaram um percurso de menos de 200 metros de extensão, numa região formada por moradias e pequenos comércios, quando ficaram no caminho de um Ford Ecosport, que com três ou quatro pessoas a bordo. Do interior do automóvel em movimento, foi disparada a rajada de tiros de pistolas calibre 9mm que atingiu e matou a jovem que desejava ser advogada e o menino que sonhava em se tornar profissional de futebol.
Comunidade escolar teme esquecimento do caso
Para o diretor do Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot, João Alberto Rodrigues, o passar do tempo tem acentuado a sensação de que a morte dos adolescentes pode "cair no esquecimento".
— A gente sente também que a distância provocada pelo passar do tempo aumenta o risco de que a narrativa do assassinato destes jovens seja preenchida pelo imaginário desrespeitoso e injusto com as suas memórias — analisa o educador.
Professor na escola, Francimar Alves conta que um recente episódio foi o desabafo de uma jovem que era amiga próxima de Marina.
— Elas eram bem amigas. Falou da dificuldade que é acreditar no que aconteceu e do medo de que daqui a pouco eles (os irmãos) sejam esquecidos. A gente (professores) torce para que não caia no esquecimento. Não seja só mais um caso. Que a gente possa se reunir um dia, lá na escola e dizer: olha aí, gente, a justiça foi feita — indica o Alves.