Os dois ataques violentos registrados em Porto Alegre, entre a noite de domingo (4) e a madrugada desta segunda-feira (5), teriam relação entre si e podem ter ocorrido como revide entre duas fações criminosas rivais que atuam no Estado. Os casos são investigados pela Polícia Civil, assim como outros ataques registrados nos últimos dias. As ocorrências indicam o retorno do conflito entre as duas facções, que começou em março e foi retomado nos últimos meses.
De acordo com a polícia, o ataque que deixou duas pessoas mortas e outras 24 feridas em um bar no bairro Campo Novo ocorreu em território comandado pela fação que nasceu na Vila Cruzeiro e atua na Zona Sul da Capital. A principal hipótese é de que a ação tenha sido realizada por um grupo criminoso rival, nascido no Vale do Sinos. São esses os dois grupos que estão protagonizando conflitos entre si atualmente na Capital.
Em suposta "resposta", o grupo da Vila Cruzeiro teria ordenado o arremesso de uma granada em um condomínio localizado na esquina das avenidas João Pessoa e Princesa Isabel, na área central, espaço onde atua o grupo do Vale do Sinos.
De acordo com o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira, as equipes apuram quem são os indivíduos responsáveis pelas ações e também quem as teria ordenado. Uma das medidas que deve ser adotada pela polícia para conter os conflitos é a transferências de presos, alternativa já utilizada pelas forças de segurança em março e que trouxe resultados diante da violência cometida pelos dois grupos naquela ocasião:
— A polícia trabalha na identificação das lideranças dos grupos que estão por trás dos ataques. Se verificarmos que elas estão ordenando as ações de dentro da prisão, certamente uma das medidas será a transferências desses presos, como ocorreu em março, para que sejam isolados e percam essa comunicação com as ruas.
Conforme a investigação, nos últimos dias, ao menos quatro ações teriam sido orquestradas pela facção do Vale do Sinos em retaliação à da Vila Cruzeiro.
Uma delas resultou na cabeça deixada na região da Vila Cruzeiro, no último dia 24. O homem decapitado — que ainda deve ter a identidade revelada pela perícia — seria ligado ao grupo criminoso da Zona Sul, segundo a polícia.
Naquela mesma semana, ocorreram outros dois homicídios. Um na Avenida Teresina, no bairro Medianeira, no dia 31 de agosto, e outro na Avenida Luiz Guaranha, entre os bairros Cidade Baixa e Menino Deus, na noite de sábado (3), em que um jovem de 25 anos foi morto a tiros e um adolescente ficou ferido.
O quarto ataque dessa sequência foi o registrado na noite de domingo, no bar do bairro Campo Novo.
— Tudo indica que a mesma facção responsável por deixar a cabeça na Vila Cruzeiro realizou também o ataque na Medianeira e no beco do Guaranha. A ação no bar, que deixou pessoas baleadas no domingo, também ocorreu em área de atuação do grupo da Cruzeiro. Então, seria uma série de quatro ocorrências, nos últimos dias, que se relacionam, em princípio, ao grupo do Vale do Sinos — explica Eibert.
Reforço no policiamento
Após os dois ataques registrados, a Brigada Militar informou que acionou, ainda na madrugada desta segunda, recursos para conter as ações criminosas, que "fugiram do normal" na avaliação do subcomandante-geral da instituição, coronel Douglas da Rosa Soares. As equipes devem iniciar o reforço no policiamento a partir desta tarde.
Conforme o coronel, cem soldados — que já atuam no policiamento e devem se formar na BM em 23 de setembro — foram destacados para percorrer bairros da Zona Sul, como Vila Cruzeiro, Belém, Cascata e Azenha, além da região do condomínio onde a granada foi arremessada. O Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e o de Aviação, com emprego de uma aeronave, também participam do trabalho.
— Estamos realizando uma série de ações para que a cidade fique tranquila, para que o cidadão se sinta protegido. Os bairros são preocupação nossa e o objetivo é evitar novos eventos do tipo, como essas ações que vimos, que fugiram do normal — pontua Soares.
Os bairros Mário Quintana e Rubem Berta (onde um homem foi executado no último dia 26), na Zona Norte, também seguem recebendo policiamento, pois ainda são considerados como "pontos de atenção".
Morte de liderança e ponto de tráfico
Segundo a investigação da Polícia Civil, movimentações recentes entre os criminosos teriam reacendido o conflito entre os grupos — registrado em março e sufocado semanas depois. Uma delas foi o assassinato de uma liderança do grupo da Cruzeiro em 21 de junho.
Pouco depois, em julho, a facção do Vale do Sinos foi expulsa pelo grupo rival do único ponto de tráfico que controlava dentro da Vila Cruzeiro. Assim, a facção da Zona Sul assumiu o comando do Acesso 5 da Cruzeiro.
— Uma série de depoimentos e diligências nos confirma isso. O conflito estava apaziguado. Tivemos um pico de disputas em março e abril, que despencou em maio, após uma série de medidas tomadas pelas forças de segurança. O conflito foi retomado com a morte da liderança, em junho, e se acirrou bastante depois que uma das facções expulsou a outra do ponto de tráfico ali da Cruzeiro — afirma o diretor Eibert.
Em março, uma dívida entre as facções teria iniciado os conflitos.