Ao lado de dois amigos, Brian Anderson Servian Ibañez, 23 anos, decidiu fazer um lanche quando voltava do trabalho na madrugada da última segunda-feira (29), em Alvorada, na Região Metropolitana. Contratado como garçom havia cerca de dois meses, tinha recebido o pagamento naquele dia, e a parada para o cachorro-quente em frente a uma casa noturna no bairro Bela Vista seria uma primeira comemoração. Mas, minutos depois de chegar ao local, acabou atingido por tiros disparados por criminosos em um ataque contra um funkeiro que saía da festa. Pai de dois filhos, uma menina de um ano e um menino de dois anos, Ibañez tentou se proteger, mas não conseguiu e, baleado, não resistiu.
De acordo com a família, Ibañez estava decidido a traçar um caminho para sua independência. Deixou a casa dos pais, em Xangri-lá, no Litoral Norte, em março. Foi morar com a irmã, Celeste Ayelen Ibañez, 26, em Cachoeirinha, até juntar um dinheiro. Então, passou a trabalhar vendendo planos de saúde na rua. Antes, havia atuado como auxiliar de cozinha em uma escola e desempenhado diferentes atividades.
Quando conseguiu um trabalho como garçom em Alvorada, alugou um apartamento com um amigo no bairro Jardim Leopoldina, em Porto Alegre. O principal objetivo da mudança para a Capital e da busca por emprego fixo era dar assistência aos filhos, conta Celeste — a caçula mora em Canoas, e o primogênito, em Viamão.
— Ele queria vir para Porto Alegre para ficar mais perto dos filhos. Todo o dinheirinho que conseguia era para dividir entre as crianças, e um pouco para se manter. Ele era engraçado, fazia amizade fácil. Era extrovertido, conversava com todo mundo, com os mais velhos, com as crianças. Chegava a ser chato com elas, porque queria brincar, abraçar. Ele era bem criança, era carinhoso. Todo mundo gostava muito dele — lembra a irmã de Brian.
Natural de Gravataí, Brian tem seis irmãos. Os pais vieram da Argentina e hoje residem no Litoral Norte. O jovem foi um dos últimos a sair da casa da família, em Xangri-lá, onde permanecem os pais e a irmã mais nova, de 19 anos. Brian havia comemorado o aniversário de 23 anos em 8 de julho.
No dia da morte, segundo Celeste, ele saiu do trabalho por volta das 2h — inicialmente, a polícia havia informado que ele estaria retornando de uma festa com os amigos. Depois que o bar em que trabalhava fechava, os funcionários começavam a limpeza, e o turno só se encerrava de madrugada.
Segundo Celeste, o irmão e um colega de trabalho haviam sido pagos naquele dia, e por isso pararam para comer um cachorro-quente. Mais um amigo os acompanhava. Conforme a polícia Civil, os tiros começaram pouco depois que o trio chegou ao local para comer, em frente a uma festa. Brian logo foi atingido e não resistiu. Um dos amigos dele também foi ferido, recebeu atendimento no hospital e já foi liberado.
— Primeiro chegou a informação de que ele tinha sido baleado. Achei que podia ser um engano ou que estava no hospital, sendo atendido. A gente não quer acreditar em algo assim, ninguém espera isso. Mas fomos até lá e era ele. Está sendo muito difícil acreditar e aceitar isso, você não imagina que um irmão mais novo, cheio de alegria, se vá dessa forma. Ele tinha um coração muito bom, fazia de tudo pela gente. É muito doloroso sem a presença dele — diz Celeste.
Todo o dinheirinho que conseguia era para dividir entre as crianças, e um pouco para se manter. Ele era engraçado, fazia amizade fácil. Era extrovertido, conversava com todo mundo, com os mais velhos, com as crianças. Chegava a ser chato com elas, porque queria brincar, abraçar. Ele era bem criança, era carinhoso. Todo mundo gostava muito dele.
CELESTE AYELEN IBAÑEZ
Irmã de Brian
Despedida
O corpo de Brian foi sepultado em Porto Alegre, no dia seguinte ao falecimento, com a presença de familiares, amigos e colegas de trabalho do bar onde trabalhava. Sem mais parentes próximos no Brasil, a família relata que precisou arcar sozinha com os custos. Agora, aguarda o avanço das investigações, na esperança de que os responsáveis pela morte respondam pelo crime.
De acordo com a polícia, Moraes estaria perto da entrada da festa naquela madrugada, do lado de fora, quando foi ferido. Ele seria natural de Sapiranga. A polícia não passou mais detalhes sobre o jovem, e afirmou que pretende ouvir familiares de Moraes nos próximos dias.
Outras quatro pessoas também ficaram feridas. A única que segue internada, segundo a polícia, é o MC Meno K, que seria o alvo dos criminosos.
Investigação em andamento
Conforme a investigação da Polícia Civil de Alvorada, o alvo dos atiradores era o funkeiro, que estava na festa com amigos naquele dia, como cliente — a apuração inicial indicava que ele teria se apresentado no evento.
A polícia ainda apura qual a motivação para o ataque e busca câmeras de segurança que possam ter registrado a ação. Uma linha de investigação indica que uma música feita pelo MC pode ter incomodado uma facção, que entendeu a letra como homenagem a um grupo rival e ordenou o ataque. A motivação, no entanto, ainda é investigada.
— Estamos trabalhando ininterruptamente no caso, desde segunda-feira — afirmou o delegado Edimar Machado, da delegacia de Homicídios de Alvorada.
A ação ocorreu enquanto o MC saía da festa, por volta das 5h20min de segunda. Ele deixava o local na companhia de outras pessoas para ingressar em um carro de aplicativo, quando um homem se aproximou e pediu para tirar uma foto. Logo depois, ele sacou uma arma e começou a disparar contra o grupo que acompanhava o funkeiro.
Outro homem também efetuou disparos, segundo testemunhas. Depois, a dupla embarcou em um carro no qual um terceiro envolvido os aguardava. Eles fugiram em direção a Viamão.
Conforme nota divulgada pela equipe do cantor na última quarta-feira, pelas redes sociais, ele passou por cirurgia e está em recuperação.
A reportagem tentou contato com produtores do funkeiro, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.