Há anos Porto Alegre não vivia cenas de barbárie como as registradas nas últimas semanas. Afora tiroteios esporádicos, que sempre acontecem, dias atrás a cabeça de um jovem foi arremessada na área da facção que controla a Vila Cruzeiro, um dos maiores bairros da cidade. E, no domingo (5), uma emboscada a frequentadores de um bar deixou quase 30 baleados.
Cabeças cortadas, como estamos cansados de saber, marcaram o auge da disputa entre os Bala na Cara e os Antibala, de 2016 em diante. Época em que Porto Alegre ficou entre as capitais mais violentas do país.
Pois agora os Bala e Antibala não são protagonistas. A confusão principal é entre duas outras facções que eram aliadas contra os Bala: os V7 (originários da Vila Cruzeiro e com atuação em áreas centrais da cidade) e Os Manos (nascidos no Vale do Sinos e hoje a maior facção do Rio Grande do Sul, com presença escassa em Porto Alegre).
Tudo teria iniciado com o rompimento do acordo entre V7 e Os Manos, que controlavam apenas uma boca de fumo na Vila Cruzeiro, o Acesso 5 da Cruzeiro. O motivo seria uma dívida de cerca de R$ 600 mil dos bandidos da Cruzeiro para com os traficantes do Vale do Sinos.
Isso gerou uma série de ataques desde março, com mais de 30 mortes. A matança diminuiu após várias ações policiais de sufocamento do tráfico, muitas prisões e o manejo de lideranças do crime no sistema penitenciário.
Mas há poucos dias os V7 tomaram o acesso 5, expulsando a facção rival. Isso gerou nova espiral de violência, como a cabeça cortada (jogada na área dos V7 como um recado) e, agora, o ataque a uma festa com pagode que resultou em 25 baleados, com pelo menos dois deles mortos.
- Isso é terrorismo, na mais completa acepção do termo. São ataques que visam atingir inocentes que residem em área cujo tráfico é dominado pela facção rival - resume um experiente oficial da Brigada Militar, que atua na linha de frente dos tiroteios.
Essa nova etapa do conflito inclui uso de armas de guerra, como granadas.
Não é falta de ação das polícias, disso estou certo. O que é preciso é convencer as chefias do submundo de que na guerra todos perdem. Esse convencimento pode dosar repressão - com novas remoções para presídios de segurança máxima - e diálogo. Seria saudável incluir nesse pacote lideranças comunitárias e advogados, por motivos óbvios. Os porto-alegrenses não têm porque se acomodar com o retorno de um cenário terrível do qual já se tinham livrado, ainda que temporariamente.