O resultado da necropsia, revelado nessa segunda-feira (29), corrobora a versão de testemunhas e indica que o golpe que matou Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, foi dado quando ele já estava caído no chão. O inquérito sobre o caso, ocorrido em São Gabriel, na Fronteira Oeste, ainda está em andamento, e deve ser remetido ao Judiciário nesta quinta-feira (1º de setembro), mas a informação foi adiantada pelo subchefe da Polícia Civil no Rio Grande do Sul, Vladimir Urach.
— Houve inicialmente um tapa, no rosto do rapaz, ele teria caído em razão disso, e na sequência um dos PMs o agrediu com um cassetete. E isso, segundo o que se revelou no laudo, ontem, é bem condizente com essa versão da testemunha, porque a lesão que causou a morte foi através de um instrumento contundente na cervical — explicou o delegado, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha.
A versão dos policiais, que negam que tenham agredido o jovem, por outro lado, segundo Urach, "é bem conflitante" com os indícios colhidos até agora na investigação. De acordo com o subchefe da Polícia Civil, há provas "contundentes" contra os suspeitos, que estão presos preventivamente.
— Acreditamos que dentro de pouco tempo este caso já deve ser remetido para o tribunal do júri, onde (os PMs) devem ser condenados pelas provas que foram juntadas até o momento, no procedimento policial. As provas são bem contundentes e acredito que haverá condenação, sim, uma condenação até bem pesada pelas provas que nós temos. Não deve ficar impune o caso — avaliou.
Entre as provas já juntadas ao inquérito, que segue em andamento, o delegado destaca os relatos de testemunhas, a filmagem feita da abordagem a Gabriel (veja abaixo), o laudo da necropsia que confirmou que a morte foi causada por um golpe, e não por afogamento, e os dados do GPS da viatura utilizada na abordagem. A polícia ainda aguarda o resultado da perícia feita neste veículo oficial - resquícios de sangue humano foram encontrados no carro, mas um exame de DNA deve confirmar se o sangue é do jovem morto ou de outra pessoa.
O caso é apurado em dois inquéritos paralelos, o da Polícia Civil e um Inquérito Policial Militar (IPM), conduzido pela Corregedoria-Geral da BM. Esta investigação no âmbito militar foi concluída nessa segunda-feira e indiciou os três policiais por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. As informações são remetidas à Justiça Militar. Se houver denúncia pelo Ministério Público e esta for acolhida pelo Judiciário, o crime de homicídio será julgado na Justiça comum, por meio de júri popular. O IPM também deve embasar um processo administrativo que pode levar à exclusão dos policiais da corporação.
Ouça a entrevista na íntegra:
Relembre o caso
Natural de Guaíba, Gabriel — que tinha se mudado havia apenas 15 dias — foi abordado no começo da madrugada de 13 de agosto, no bairro Independência, em São Gabriel. Após ser levado na viatura pelos três PMs, não foi mais visto. Uma semana depois, o corpo dele foi encontrado a dois quilômetros de onde ocorreu a abordagem, dentro de um açude.
Na ocorrência, os policiais haviam registrado que revistaram Gabriel e o liberaram. Com o sumiço, foram ouvidos em inquérito policial militar e admitiram ter levado o jovem para a localidade de Lava Pé. Alegando inocência, as defesas disseram que foi ele quem pediu para ser deixado naquele local, pois estaria procurando a casa de familiares.
No último dia 23, a juíza Juliana Neves Capiotti, da Vara Criminal de São Gabriel, decretou a prisão preventiva do trio. Os policiais — os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen — estão presos desde 19 de agosto por determinação da Justiça Militar. O decreto ocorreu, inicialmente, em função de irregularidades na condução da ocorrência.