Em depoimentos dados no sábado (27) à Polícia Civil e neste domingo (28) à Corregedoria da Brigada Militar, os três policiais investigados pela morte do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, mantiveram uma mesma versão: sustentam que não espancaram ou assassinaram o rapaz, encontrado sem vida em um açude de São Gabriel, na Fronteira Oeste, uma semana após ter sido abordado pelo trio.
— A lógica e a forma da fala foram idênticas, mesmo com perguntas diferentes, tanto para o delegado da Polícia Civil quanto para os encarregados do inquérito militar. As respostas sempre foram as mesmas — afirma o advogado Ivandro Bitencourt Feijó, que representa o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso.
Também foram ouvidos os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima. A advogada de ambos, Vânia Barreto, confirmou a GZH que a dupla também negou ter agredido ou provocado a morte de Gabriel nos dois depoimentos colhidos ao longo do final de semana.
Testemunhas relataram à Polícia Civil que um dos três PMs teria dado um tapa em Gabriel e, em seguida, três golpes de cassetete na cabeça teriam feito o jovem desmaiar. Ele teria sido então algemado e colocado na parte de trás da viatura policial, que o levou até as proximidades do açude onde seria encontrado morto dias depois.
Feijó sustenta que um vídeo gravado por uma testemunha com o celular não demonstra indícios de agressão.
— Onde está o cassetete naquele vídeo? — questiona o defensor do segundo-sargento.
O advogado acredita que os testemunhos podem ter sido “contaminados” pelo clima de comoção criado pelo desaparecimento e posterior localização do corpo do rapaz. Os PMs admitem apenas ter conduzido Gabriel na viatura até a localidade de Lava Pé, distante certa de dois quilômetros, a pedido do próprio jovem, segundo relatam. Depois disso, não teriam informações sobre o que ocorreu com ele.
Essa hipótese é negada com veemência pelos pais de Gabriel. Em entrevista concedida também neste domingo (28), a mãe, Rosane Machado Marques, e o pai, Anderson da Silva Cavalheiro, argumentaram que o filho estava em São Gabriel, na casa de um tio, apenas para prestar o serviço militar, não conhecia praticamente nada da cidade e não teria qualquer razão para se deslocar até uma zona afastada do município.
— Ouvimos 10, 15 vezes que ele teria pedido para ser deixado no LavaPé. Não tem como isso — sustenta Rosane.
O interrogatório feito na Polícia Civil teve objetivo de esclarecer o que a investigação considera contradições nos depoimentos, como lacunas nos horários, trajeto da viatura e motivação da abordagem violenta, negada pelos PMs. O delegado regional de Bagé, Luís Benites, estima que o inquérito policial será apresentado à Justiça até a próxima quinta (1º) após a conclusão de perícias como a que deve apontar a causa da morte.
A Polícia Civil diz ter encontrado evidências de crime doloso contra a vida e pediu a prisão dos policiais por homicídio duplamente qualificado. A BM investiga do trio por crimes previstos no Código Militar. No inquérito militar, podem responder por tortura, falsidade ideológica e falso testemunho. O procedimento pode resultar em expulsão da corporação.