A Polícia Civil tomou neste sábado (27) o depoimento de três policiais militares envolvidos na morte do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, ocorrida em São Gabriel em 12 de agosto. Eles negaram qualquer participação em assassinato ou mesmo espancamento do rapaz. Naquela noite, Gabriel foi detido na área central da cidade por uma patrulha da Brigada Militar e largado num distrito dois quilômetros distante de onde foi abordado. Ele sumiu e seu corpo foi encontrado, uma semana depois, submerso num açude na mesma região onde foi deixado pelos PMs.
Testemunhas relataram à Polícia Civil que um dos três PMs deu um tabefe em Gabriel e, depois, três golpes de cassetete na cabeça. O jovem teria desmaiado. Foi então algemado e colocado na parte de trás da viatura policial, que o levou até perto do açude "para não retornar mais".
Os PMs teriam sido chamados pela dona de uma casa quando Gabriel pulou um muro para entrar na residência. Uma das linhas de investigação é de que ele pretendia encontrar ali uma jovem menor de idade, com quem fizera amizade, mas isso é negado pela proprietária da casa. O rapaz, natural de Guaíba, na Região Metropolitana, estava em São Gabriel para prestar o serviço militar. Não se sabe porque os policiais teriam espancando o jovem — eles inclusive negam ter feito isso. Filmagens da abordagem e, principalmente, os relatos das testemunhas motivaram o pedido da Polícia Civil para decretação da prisão preventiva dos três policiais militares, decisão que foi tomada pela Justiça. Estão presos os soldados Raul Veras Pedroso, Cléber Renato Ramos de Lima e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso.
No depoimento, prestado na sede da Polícia Civil em Porto Alegre, os três PMs negaram mais uma vez terem espancado e "sumido" com o rapaz. O interrogatório foi feito pelos policiais no intuito de clarear o que a investigação considera contradição em seus depoimentos. Há lacunas nos horários, trajeto da viatura e, principalmente, sobre a motivação da abordagem violenta, negada pelos PMs.
O delegado regional de Bagé, Luís Benites, estima que o inquérito policial a respeito do caso será apresentado à Justiça até a próxima quinta-feira (1º), já que, como os suspeitos estão presos, o prazo para entrega das conclusões da investigação é de 10 dias. O conteúdo do depoimento dos policiais não foi liberado pela Polícia Civil porque o caso está em segredo de Justiça.
Os três policiais, que estão presos em Porto Alegre, também vão prestar novo depoimento à Corregedoria da Brigada Militar neste domingo (28).
Fontes ouvidas pela reportagem confirmam que a tendência é de que os PMs sejam indiciados por homicídio e ocultação de cadáver (por parte da Polícia Civil) e indiciados por tortura, falsidade ideológica e falso testemunho no Inquérito Policial Militar (IPM) a que estão submetidos dentro da Brigada Militar — e que pode, futuramente, resultar em sua expulsão da corporação.
Contrapontos
O que diz Ivandro Bitencourt Feijó, defensor do segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso:
Ele declara que seu cliente é inocente e clamou por isso em todos os depoimentos prestados até agora.
— Mais uma vez, ele e os outros PMs negaram ter espancado o Gabriel e tampouco ter assassinado ele. As testemunhas que apontam isso caíram em contradição. Num primeiro momento, não falaram em abordagem violenta por parte dos policiais. Depois, relataram uso de cassetetes e tapas desferidos. A cada depoimento, elas dão uma informação nova. Isso é contaminação do testemunho — considera Ivandro.
O que diz Vânia Barreto, defensora dos soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima:
— Os clientes negam terem espancado e sumido com o rapaz. Não por estratégia de defesa, mas porque não houve agressão alguma. O último contato que os PMs tiveram com o Gabriel foi quando ele desembarcou da viatura, na estrada do Lava Pés. Eles não têm a ver com o sumiço do rapaz.