Os pais do jovem Gabriel Marques Cavalheiro, encontrado morto em São Gabriel depois de ter sido levado por uma viatura da Brigada Militar, manifestaram angústia neste domingo (28) por ainda não terem respostas sobre o que ocorreu de fato com o rapaz de 18 anos e as razões para que ele tenha sido encontrado já sem vida em um açude.
Rosane Machado Marques e Anderson da Silva Cavalheiro, de Guaíba, na Região Metropolitana, falaram a jornalistas no começo da tarde no município da Campanha, onde seguem acompanhando as apurações. O casal fez questão de agradecer pelo trabalho de investigação realizado até o momento pela Polícia Civil.
— A gente queria agradecer o acolhimento de São Gabriel e exaltar o esforço da Polícia Civil, que foi incansável noite e dia. Sei que é o serviço deles, mas foram incansáveis — declarou Rosane.
Ela aproveitou o episódio para cobrar melhorias no aparato de segurança pública do Rio Grande do Sul com a intenção de que casos semelhantes não se repitam:
— Tem de preparar melhor os funcionários (policiais da Brigada Militar), não podem levar a pessoa, do nada, e matar. Tem de ter câmera na roupa, nos carros, isso tem de ser para ontem, para não acontecer o que houve com o Gabriel com mais pessoas.
Desde que a morte de Gabriel foi confirmada, o casal diz sofrer com a falta de coerência das informações prestadas pelos policiais militares envolvidos no desaparecimento do filho — os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso, presos desde o dia 19 de agosto.
Os brigadianos sustentam que levaram o jovem na viatura e o deixaram na localidade de Lava Pé por solicitação dele mesmo. Contudo, os pais contestam a informação pelo fato de o rapaz não conhecer São Gabriel. Ainda, negam que o jovem possa ter entrado no açude por conta própria, e informaram que ele não sabia nadar.
— A gente fica se perguntando todo dia: por que bater nele? Por que fazer isso com ele? Ele estava de bombacha, de alpargatinha. Ele dizia "eu não sou daqui, só vim me alistar, senhor", todo mundo ouviu ele dizer "estou na casa do meu tio, não sou daqui". Não consigo entender como as pessoas podem ser tão cruéis e tão desumanas que nenhum deles tem coragem de dizer na verdade o que fizeram com o Gabriel. É muito triste — afirmou Rosane.
O casal contou que esteve na unidade da Brigada Militar de São Gabriel enquanto o filho ainda estava desaparecido, e disse que os policiais envolvidos no episódio teriam se negado a prestar esclarecimentos sobre o destino do rapaz.
— A gente falou com os policiais, perguntou pelo meu filho, mas ficaram em silêncio — lembrou a mãe.
Rosane recordou ainda que o jovem estava no município apenas para se alistar no Exército:
— Ele veio cheio de sonhos, era para estar no quartel, alistado, com a gente. E ele está dentro de uma caixa, morto (...). Quando a gente chegar em casa e olhar as coisas dele, como é que vai ser?
Os brigadianos presos prestaram depoimentos à Polícia Civil e à Corregedoria da Brigada Militar ao longo do final de semana e mantiveram a versão de que não tiveram relação com a morte de Gabriel.