Com a revelação de que Gabriel Marques Cavalheiro, 18 anos, morreu em decorrência de um golpe no pescoço que causou hemorragia interna, a investigação do caso ainda tem um desafio: esclarecer a dinâmica da colocação do corpo no açude onde ele foi encontrado, que fica na localidade Lava Pé, no interior de São Gabriel.
Desde que os dados do GPS mostraram que a viatura parou na região naquela madrugada de 13 de agosto por apenas um minuto e 50 segundos, há questionamentos sobre o tempo não ser suficiente para carregar o corpo até a água. Por isso, a polícia não descarta que Gabriel tenha sido deixado, já sem vida, na região e, depois, alguém tenha retornado para colocar o corpo na água.
A necropsia do Instituto-Geral de Perícias (IGP) indicou que Gabriel já estava morto quando foi colocado no açude. Análise também do IGP revelou que o corpo, achado no dia 19, estava na água havia pelo menos cinco dias. No inquérito da Polícia Civil, os três policiais militares presos pelo crime - os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima e o segundo-sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen - serão enquadrados por homicídio qualificado. São duas qualificadoras: uso de recurso que dificultou a defesa da vítima e tortura.
Um terceiro elemento ainda pode surgir, que seria a motivação para o uso de violência desproporcional ao que o caso exigiria. Quando foi abordado, Gabriel não reagiu. Estava embriagado e alegou estar perdido da casa do tio-avô - ele só morava há 15 dias na cidade.
Ainda assim, conforme testemunhas, levou um tapa que o derrubou no chão e, depois, recebeu uma sequência de pelo menos três golpes de cassetete na cabeça e no pescoço. Conforme o resultado da necropsia revelado nesta segunda-feira (29) pela cúpula da Segurança Pública, foi o golpe no pescoço que causou a lesão na cervical e a hemorragia interna que se espalhou pela caixa torácica.
Uma das hipóteses para a violência poderia ser o fato de Gabriel ter se dirigido a um dos PMs como "fraco". Isso foi relatado por uma das testemunhas ouvidas pela polícia. O inquérito deve ser concluído até a próxima quinta-feira, preenchendo lacunas que ainda existem no caso.
Ouvidos pela Polícia Civil e novamente pela Brigada Militar, no final de semana, os três PMs presos negaram as agressões e morte de Gabriel.
GZH deixou recado para a advogada Vânia Barreto, que defende os soldados Raul Veras Pedroso e Cléber Renato Ramos de Lima, mas ainda não obteve retorno.
O que diz Ivandro Bitencourt Feijó, advogado do sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen:
A defesa recebe o laudo de necropsia e continua confinante na inocência do 2. Sargento Jacobsen. Estamos compreendendo os termos do laudo e os achados médicos. Muitas dúvidas ainda se encontram pairando no caso. Mas seguimos buscando a dinâmica dos fatos, especialmente em que momento ocorreu essas lesões e quais os demais desdobramentos.