O mistério que envolvia o atropelamento de um ciclista na orla do Guaíba, em Porto Alegre, na manhã de 25 de outubro, foi desvendado nesta quinta-feira (11) pela Polícia Civil. Um jovem de 19 anos, após ser identificado pela investigação, apresentou-se aos policiais e confessou ser o motorista do Fox vermelho. Depois de atingir o fisioterapeuta Matheus Kowalski, 37 anos, que teve fratura em um dos braços, ele fugiu do local. O caso aconteceu na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, nas proximidades do Beira-Rio.
Para chegar até o nome do motorista – que não teve a identidade divulgada – a polícia precisou cruzar uma série de informações. As imagens de câmeras de monitoramento permitiram confirmar que o veículo que atingiu o ciclista era mesmo um Fox vermelho, conforme havia sido descrito pela própria vítima. No entanto, por meio delas, não se conseguiu identificar a placa do automóvel.
— Foi uma investigação de certa forma complexa — afirma o delegado Cassiano Cabral, que coordena a investigação.
O relato de testemunhas, que presenciaram a fuga do veículo, levou os policiais até a identificação da placa. Por meio das imagens das câmeras que integram cercamento eletrônico e de outras informações, foi possível confirmar também que este Fox estava na Avenida Beira-Rio no mesmo horário em que aconteceu o atropelamento.
No entanto, a placa indicava um veículo de Araranguá, município de Santa Catarina. A polícia acabou descobrindo que o proprietário, que reside no outro Estado, havia vendido o automóvel para um morador da zona sul de Porto Alegre. O comprador não havia feito a transferência do veículo para o seu nome. Após chegarem ao nome desse jovem, ele foi intimado para prestar esclarecimentos.
Na tarde desta quinta-feira, ele se apresentou à equipe da Divisão de Delitos de Trânsito, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), acompanhado de advogado. Durante o depoimento, o rapaz confessou ter sido o autor do atropelamento. Ele contou que naquela manhã estava na companhia da namorada e de um amigo. Em sua versão, disse que estava indo levar o amigo em casa e que, no trajeto, acabou atingindo o ciclista.
— Ele disse que vinha em velocidade compatível com a via, o que para nós não condiz, especialmente pela freada brusca no local. Afirmou que não imaginou que a vítima havia se machucado porque quando olhou para trás o ciclista já estava de pé. E que não parou para socorrer porque foi abordado por outro condutor, que começou a gritar com ele, e, por isso, ele fugiu. Essa é a versão dele — detalha o delegado.
GZH ouviu, na semana passada, um condutor que confirmou que havia tentado parar o motorista do Fox logo após o atropelamento. Também morador da Zona Sul, ele disse que pediu que ele voltasse e prestasse socorro, mas o motorista fugiu mesmo assim. Segundo o delegado, o motorista alegou que não teve intenção de atropelar a vítima.
— Ele diz, que como naquele ponto a via afunila, ele acabou colidindo com o ciclista, um choque lateral. O retrovisor teria batido no guidão da bicicleta. Tanto pelo depoimento dele, como das testemunhas, e pelas imagens que obtivemos, fica claro que se trata de um crime de trânsito. Uma lesão corporal culposa. Ele não quis atropelar intencionalmente esse ciclista, mas ele não parou para socorrer, se omitiu — conclui o delegado.
A polícia solicitou que o veículo seja entregue pelo condutor para realização de perícia. A investigação aguardará por essa análise para finalizar o inquérito. O fisioterapeuta e as outras testemunhas já foram ouvidas. Ainda conforme o delegado, o motorista não possui antecedentes e somente um episódio de acidente de trânsito.
O jovem deverá responder pela lesão corporal culposa, com possível aumento de pena por conta da omissão de socorro. O delegado também poderá solicitar, como medida cautelar, a suspensão da carteira nacional de habilitação.
A vítima
Com fraturas no braço esquerdo, o fisioterapeuta permaneceu hospitalizado até o início da semana passada. Kowalski atua na Confederação Brasileira de Atletismo e estava em preparação para participar de prova de triatlo. A expectativa é de que o ciclista leve cerca de seis meses para conseguir se recuperar.
Outro caso que envolveu ciclistas na orla do Guaíba é do condutor de um Voyage branco. Neste, pelo menos 11 episódios foram registrados entre o fim do ano passado e setembro deste ano, especialmente na Avenida Beira-Rio. Os ciclistas relatam que o motorista acelerava e freava próximo deles, colocando em risco a segurança dos atletas. Ele foi ouvido e só confirmou um dos casos. Sobre os demais, informou que não se recordava.
No último fim de semana, foi realizado um protesto na Avenida Beira-Rio, onde esportistas pediram mais segurança. Com uma extensa faixa, eles percorreram parte da via, a partir do viaduto Abdias do Nascimento, próximo de onde aconteceu o atropelamento de Kowalski, como uma forma de despertar atenção para o tema. O fisioterapeuta participou da manifestação.