Atualização: em 17 de novembro de 2020, a Polícia Civil informou que um entregador, que afirmava ter sido a 11ª vítima, confessou ter mentido sobre o caso. Ele admitiu que não foi perseguido pelo Voyage e que se acidentou sozinho. O jovem, que passou a ser investigado pela falsa versão, alega que passava por problemas financeiros. A matéria foi atualizada.
A perícia no veículo do condutor suspeito deve ser um dos últimos passos antes de a Polícia Civil concluir a investigação sobre a perseguição a ciclistas na orla do Guaíba, em Porto Alegre. O Voyage branco foi apreendido, assim como a carteira nacional de habilitação (CNH) do motorista de 44 anos investigado por ataques a uma série de vítimas. Pelo menos 11 casos são investigados pela Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a maioria na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio. Um deles foi descartado pela investigação em 17 de novembro, restando 10 casos suspeitos.
O automóvel foi apreendido pela equipe de investigação no fim de setembro, e a análise no veículo foi solicitada, após um pedido da defesa do investigado — o suspeito não teve o nome divulgado pela polícia. Segundo o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, da Core, o objetivo dessa fase é permitir que todas as possibilidades sejam apuradas. Caso após a análise no carro, a defesa decida apresentar novos elementos ao caso, eles devem ser inseridos no inquérito.
— Os indícios apontam até o momento para o indiciamento, a prova indica que esse foi o carro utilizado e que o motorista era o investigado, mas temos que ser técnicos e não podemos cercear o direito da defesa. Eles solicitaram que fosse feita a perícia no veículo, encaminhamos para a análise e estamos no aguardo para poder então concluir — afirma.
Entre as perguntas que foram encaminhadas pela Polícia Civil à perícia está a possibilidade de ser um veículo clonado (exame de verificação de adulteração da numeração identificadora), se existe alguma marca de colisão do carro em bicicleta, se o veículo estava impossibilitado de transitar por avaria no motor e, neste caso, em qual período. Segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP), a requisição para periciar o Voyage foi realizada pela polícia em 15 de outubro. A previsão para conclusão dessa análise é até o fim de novembro.
O motorista poderá responder pelos crimes de lesão corporal e até tentativa de homicídio, caso a polícia entenda que essa era a intenção do condutor ao perseguir as vítimas. O investigado foi ouvido pela polícia no dia 30 de setembro. Ele admitiu participação somente em um dos fatos. Alegou que foi tentar desviar de um ciclista e que isso gerou uma discussão. Sobre os demais episódios, afirmou que não se recordava.
A polícia chegou a pedir a prisão do motorista, mas a solicitação foi negada. Segundo o Tribunal de Justiça, os delitos não justificariam esse tipo de medida — o Ministério Público também se manifestou contra a preventiva.
O caso
Os ataques aconteceram entre o novembro do ano passado e 13 de setembro deste ano. As vítimas relatam que o motorista de um Voyage branco se aproximava delas em alta velocidade e freava próximo. Alguns ciclistas relataram que precisaram sair da frente do veículo para não serem atingidos. A série de episódios levou a polícia a abrir investigação.
Ciclista atropelado
No fim de outubro, outro caso envolvendo um ciclista aconteceu também na Avenida Beira-Rio. O fisioterapeuta Matheus Kowalski, 37 anos, foi atropelado enquanto pedalava nas proximidades do Beira-Rio, na manhã de 25 de outubro. Ele teve fratura em um dos braços e precisou permanecer hospitalizado por mais de uma semana. No último sábado (7), os ciclistas realizaram uma manifestação na orla do Guaíba pedindo mais segurança.
Neste caso, o veículo envolvido é apontado como um Fox vermelho. O condutor fugiu do local após a colisão. Segundo a polícia, não há até o momento nenhum indicativo de que se trate do mesmo motorista do Voyage. Esse caso é investigado pela Divisão de Delitos de Trânsito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O ciclista atropelado prestou depoimento na última segunda-feira (9).
Um outro condutor ouvido por GZH informou que tentou parar o veículo após o atropelamento. O morador da Zona Sul, que preferiu não ser identificado, disse que dentro do Fox havia um casal de jovens. Ele anotou a placa, que foi repassada à polícia.