Atualização: em 17 de novembro de 2020, a Polícia Civil informou que um entregador, que afirmava ter sido a 11ª vítima, confessou ter mentido sobre o caso. Ele admitiu que não foi perseguido pelo Voyage e que se acidentou sozinho. O jovem, que passou a ser investigado pela falsa versão, alega que passava por problemas financeiros. A matéria foi atualizada.
Suspeito de ter perseguido e ameaçado uma série de ciclistas em Porto Alegre, um condutor de 44 anos negou os casos. Ele é o proprietário do Voyage branco, que foi apreendido na semana passada. O investigado prestou depoimento à polícia nesta quarta-feira (30). Pelo menos 11 vítimas relataram ter sido atacadas pelo motorista — um dos casos foi descartado pela apuração da polícia e restaram 10. A maior parte dos casos aconteceu na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio.
Segundo o delegado Marco Antonio Duarte de Souza, da Coordenaria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil, o motorista admitiu participação somente em um dos episódios. Em agosto, um jovem contou ter sido ameaçado por ele na Avenida Beira-Rio, próximo do cruzamento com a Avenida Ipiranga. Neste caso, o condutor investigado chegou a descer do carro com uma chave inglesa na mão. O ciclista relatou que estava sozinho, mas o suspeito apresentou outra versão.
— Ele diz que foi tentar desviar de um ciclista e que, por conta disso, passou perto deste outro ciclista, que isso gerou uma discussão. Ele diz que pararam para discutir. E que esse ciclista teria recebido apoio de outros, e que ele desceu com a chave para se defender — detalha o delegado.
Em relação ao caso de um entregador que contou ter sido atacado no bairro Cidade Baixa, o motorista também alegou que não teve envolvimento. Em 17 de novembro, a polícia descobriu que a versão do entregador era falsa e que o motorista do Voyage não tinha relação com este caso.
Sobre os outros episódios, onde teria perseguido e ameaçado uma série de ciclistas o condutor alegou que não se recorda destes fatos.
— Ele diz que não reconhece, que não se lembra. Que pode ter acontecido de ter passado próximo, mas que não fez por querer — explica o delegado.
O condutor prestou depoimento acompanhado de advogado.
Veículo reconhecido
Além de ouvir o motorista, a polícia realizou nesta semana o reconhecimento do veículo apreendido. Conforme o delegado, seis vítimas conseguiram apontar que se trata do mesmo carro. O veículo foi apreendido em frente à casa do condutor, na zona sul da Capital, na semana passada. Ele também teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apreendida, por período indeterminado.
Por pedido da defesa do investigado, a polícia decidiu encaminhar o veículo para análise da perícia. A intenção é identificar se há algum vestígio de acidente, por exemplo. No último episódio, na Cidade Baixa, o jovem relatou que chegou a bater contra o carro com a bicicleta. A polícia pretende esperar o resultado desta análise da perícia para então definir os crimes pelos quais o condutor deve ser indiciado.
— Temos provas no sentido contrário (ao depoimento do suspeito). As primeiras conclusões realmente apontam para o contrário. Mas vamos aguardar a perícia e as provas que a defesa quer apresentar — diz o delegado.
Durante a investigação, a polícia chegou a pedir à Justiça a prisão preventiva do suspeito, por receio de que ele voltasse a perseguir outros ciclistas. No entanto, o pedido foi negado pelo Judiciário. Segundo o Tribunal de Justiça, os delitos dos quais ele é suspeito não justificariam esse tipo de medida — o Ministério Público também se manifestou contra a preventiva.