A história de um entregador que teve a bicicleta que usava para trabalhar destruída, após ser atacado pelo condutor de um veículo em Porto Alegre, sensibilizou uma moradora de Novo Hamburgo. Ao ler sobre o caso em GZH, Cristiane Haubrich, 57 anos, decidiu doar ao jovem a Caloi 500 que guardava em casa. Na tarde desta quarta-feira (23), Cleiton Rangel, 21 anos, foi até o município do Vale do Sinos para buscar a bike.
— Não tenho palavras para agradecer. Agradeço de coração — disse o rapaz, após receber a bicicleta nesta tarde.
O jovem diz ter sido uma das vítimas de um motorista em um Voyage branco, que vinha perseguindo ciclistas na Capital. Na manhã desta quarta-feira, a polícia apreendeu o veículo e a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) do condutor. Na última quinta-feira (17), Cleiton estava a caminho de uma entrega na Rua José do Patrocínio, no bairro Cidade Baixa, quando precisou frear para não ser atingido pelo veículo e acabou caindo. Ele feriu o pé esquerdo e a bicicleta ficou com as rodas e o guidão tortos.
Mesmo machucado, o rapaz terminou a entrega e nos dias seguintes ainda insistiu em usar a bike para atender os chamados. No domingo (20), com muita dor, já não conseguia ficar em pé, e precisou enviar a bicicleta para o conserto. No início da semana, conseguiu uma bike emprestada com um vizinho para voltar a fazer entregas.
— Trabalho todo dia. Preciso trabalhar, não posso parar — contou o jovem.
Na terça-feira, ao saber da história dele, Cristiane decidiu fazer a doação. Um dos motivos que comoveu a bancária é a ligação que ela mesma tem com o ciclismo. Todos os fins de tarde, costuma pedalar com o marido. Os dois utilizam a ciclovia de Campo Bom, município vizinho a Novo Hamburgo, onde trabalham. Ao final do expediente, o casal se equipa e percorre diariamente 18 quilômetros — são três voltas na ciclovia quem tem 6 quilômetros.
— Essas pessoas que usam a bike para fazer telentrega inclusive poluem menos. Temos que valorizar esses grupos. Eles também são empreendedores — diz Cristiane.
A bicicleta doada ao jovem foi usada pela própria bancária. Após comprar um novo modelo, Cristiane tinha resolvido doar a dela para a mãe. Mas, antes que isso se concretizasse, deparou com a história de Cleiton.
— Entre minha mãe e o menino que precisava usar para o trabalho, fiz uma escolha. Era a bicicleta do meu pedal, de todos os dias. Mas está em perfeitas condições — descreve.
A entrega foi feita em Novo Hamburgo. De lá, Cleiton retornou de trensurb para Porto Alegre, onde espera continuar trabalhando com suas entregas.
— Pensa numa pessoa feliz — comemorou o jovem.
O caso do Voyage
Além do jovem, pelo menos outras 10 pessoas relataram terem sido vítimas do mesmo condutor. A maioria dos casos aconteceu na Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio, na orla do Guaíba. Em um dos casos, segundo o ciclista, o motorista chegou a descer do veículo para ameaçá-lo com uma chave inglesa. O condutor deverá ser ouvido na próxima semana pela Polícia Civil.