Desde que relatos sobre um Voyage branco que estaria perseguindo ciclistas em Porto Alegre foram divulgados por GZH, na segunda-feira (31), mais duas vítimas procuraram a Polícia Civil. Com esses casos, já são sete pessoas que contam ter sido alvo do mesmo veículo.
A maioria dos casos comunicados aconteceu nas imediações da Avenida Edvaldo Pereira Paiva, a Beira-Rio, mas há episódios também na Avenida Ipiranga e em outros pontos da Capital.
O registro mais recente que chegou à polícia é de um homem que contou ter sido perseguido pelo motorista enquanto pedalava pela Beira-Rio no início de agosto. A maioria dos casos registrados até agora aconteceu neste mesmo mês: foram cinco episódios, além de outros dois no começo do ano.
As datas dos ataques comunicados à polícia foram 6 de fevereiro, 13 de março, 6 de agosto, 7 de agosto, 8 de agosto, 10 de agosto e 11 de agosto. A maioria em horário no início da manhã, entre 6h30min e 7h30min, tanto no sentido Zona Sul-Centro, quanto no contrário.
Na manhã de segunda-feira (31), um jovem de 26 anos registrou um caso que aconteceu em 10 de agosto, após saber do relato dos outros ciclistas - ele pediu para não ser identificado, assim como outros ciclistas ouvidos pela reportagem.
O rapaz conta que retornava para casa de bicicleta pela Beira-Rio, por volta das 7h30min, quando o motorista se aproximou e jogou o veículo para cima dele, próximo à Rótula das Cuias. Quando o ciclista cruzava em direção à Avenida Ipiranga, o condutor teria tentado atingi-lo outra vez com o carro e descido do Voyage.
— Ele veio com uma velocidade muito alta, para me pegar. Segurei a bicicleta e ele passou com o carro, e parou mais adiante, a uns cinco metros. Na hora que ele desceu, fiquei olhando porque pensei que ele poderia estar armado. Mas desceu com essa chave inglesa grande. Fiquei assustado, mas pensei que era algo do calor do momento. Não estou mais utilizando aquela via, mas fiquei preocupado com outras pessoas, que podem acabar caindo, se machucando — disse o jovem, que reside na Capital e só decidiu registrar o episódio após saber que essa era uma conduta repetitiva do motorista.
Neste caso, como há uma câmera da Empresa Pública de Transportes e Circulação (EPTC) no local onde o condutor teria ameaçado o jovem, a polícia solicitou as imagens. No entanto, ainda não há certeza de que será possível obter os vídeos, em razão do período transcorrido entre o fato e o registro da ocorrência. Por isso, o delegado reforça o pedido para que os registros sejam feitos imediatamente após os fatos.
_ Isso nos permite trabalhar de forma ágil a questão das câmeras. Esse fato nós fomos atrás, mas ainda estamos no aguardo. O importante é as vítimas registrarem _ ressalta o delegado Marco Antônio Duarte de Souza, da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), que investiga o caso.
A investigação
Desde que os casos chegaram ao conhecimento da investigação, a polícia vem buscando coletar provas para confirmar se o veículo apontado pelas vítimas é o envolvido nos ataques. Alguns ciclistas chegaram a registrar a placa do Voyage, que foi informada à polícia, mas, conforme o delegado, a investigação ainda busca elementos que comprovem que se trata deste carro. Depois disso, os policiais devem ouvir o motorista, apontado como possível autor dos fatos.
— Ainda estamos trabalhando na confirmação do modelo, do veículo e da autoria. Estamos em diligências — disse Souza, sem adiantar detalhes.
O inquérito ainda não tem prazo para ser concluído. Mas, segundo o delegado, quando identificado, o condutor poderá ser indiciado pelos crimes de tentativa de lesão corporal e até de tentativa de homicídio. Isso porque, embora não tenham sido registrados casos em que o atropelamento se concretizou, algumas vítimas relataram que isso só não aconteceu porque elas conseguiram evitar, saindo de perto do carro.
Foi o que aconteceu com um casal, que foi alvo do veículo na manhã de 11 de agosto, enquanto pedalava pela Beira-Rio. Os dois precisam ingressar na ciclovia, apressados, para evitar a colisão, batendo no meio-fio.
— Só percebi quando ele estava em cima. Cantou pneu do lado da minha esposa e avançou para cima. Buzinando com força. Dava para ver a roda. Se não tivesse conseguido entrar na ciclovia, ia bater a roda e cair — descreveu o arquiteto, de 33 anos.
Como denunciar
Caso seja vítima, a orientação é procurar imediatamente a Polícia Civil. Basta ir até o plantão da delegacia mais próxima, utilizar a Delegacia Online ou ir diretamente até o Palácio da Polícia. Também é possível entrar em contato pelos telefones (51) 3288-2189 ou 3288-2400 e solicitar que a ligação seja repassada para a Core. Algumas vítimas deixaram de registrar o caso porque não sofrerem lesões. Mas, mesmo nesses casos, o condutor pode ser responsabilizado.