Durante a explanação do Ministério Público (MP), que iniciou na tarde desta quinta-feira (14), no julgamento pela morte de Bernardo Uglione Boldrini, em Três Passos, no noroeste do Estado, os promotores acusaram Leandro Boldrini e Graciele Ugulini de terem planejado a morte do menino. Também defenderam a condenação de todos os réus com pena máxima. Um dos pontos mais tensos foi a exibição de fotografias do corpo do menino. O garoto foi encontrado morto, enterrado em cova rasa, em Frederico Westphalen, em abril de 2014. O pai e a madrasta são réus no processo, junto de Edelvânia e Evandro Wirganovicz.
– Por baixo dos panos, eles (Graciele e Boldrini) tramaram a morte do filho e do enteado. Ele (Boldrini) não estava lá presente, mas ele tinha o domínio de todas as ações que foram desempenhadas pela Graciele, pela Edelvânia e também pelo Evandro – acusou o promotor Bruno Bonamente.
O promotor defendeu que o pai participou do plano da morte do filho como mentor do crime. O debate entre o MP e as defesas no julgamento pela morte de Bernardo se iniciou 15h28min desta quinta-feira (14). Foram disponibilizadas quatro horas para Promotoria e advogados apresentarem seus argumentos. Com isso, os debates podem ser estender até sexta-feira (15), dia para o qual está previsto o término do julgamento.
– As provas que existem nos autos são mais do que suficientes não só para sustentar acusação, como para pedir a condenação, mas em pena máxima. Pelo requinte de crueldade, pela forma horrenda como foi cometido contra o Bernardo. Peço aqui de início, de saída, a condenação dos réus por todos esses crimes – argumentou Bonamente.
Boldrini saiu da sala do júri durante a exibição das fotografias do menino morto. No plenário, houve choro e silêncio. Edelvânia e Graciele choraram durante a maior parte dos interrogatórios, pela manhã. No momento que as imagens foram mostradas mantiveram a cabeça baixa e não choraram. Evandro foi o único a manter os olhos fixos no promotor.
– É forte e espero que o pai dele tenha coragem de ver. Um pai que ama o filho vai sair daqui direto para a UTI – afirmou o promotor Ederson Vieira.
O promotor acusou o pai e a madrasta de terem cometido tortura psicológica contra Bernardo. O menino chegou a procurar o Fórum, em janeiro de 2014, reclamando da falta de atenção de Boldrini e das brigas constantes com Graciele.
– Eu não sei o que nós temos sentados aqui atrás. Eu não consigo chamar de seres humanos. Torturaram esse menino por quatro anos, esses psicopatas que estão sentados aqui atrás. O Leandro e a Graciele se regozijaram com o sofrimento do Bernardo – acusou Vieira.
Os promotores rebateram a versão apresenta por Graciele de que a morte de Bernardo teria acontecido de forma acidental. A madrasta afirmou em interrogatório que o menino teria morrido após ingerir medicamentos e que ela apenas ocultou o corpo, por receio de ser acusada de um crime.
– A Graciele disse aqui que está numa cela e não pode ver a luz do sol. O Bernardo também não! – acusou Bonamente.
Para o MP, elas utilizaram o veículo de Edelvânia para levar Bernardo até o local onde seria morto e enterrado porque os materiais que seriam empregados no crime, como soda cáustica, uma pá e uma cavadeira, já estavam no veículo.
– Todas as pessoas que viram esse vídeo têm vontade de gritar. 'Foge, Bernardo! É aí que tu vai morrer' – disse Bonamente, enquanto era exibido vídeo no qual o menino aparece entrando no carro de Edelvânia.
A Promotoria afirmou que a multa recebida por Graciele, no trajeto entre Três Passos e Frederico Westphalen, foi essencial para derrubar álibi de que a madrasta não havia levado o menino ao município vizinho. Um policial rodoviário viu Bernardo dentro do carro no momento de aplicar a multa. O MP argumenta que a intenção era manter a versão de que Graciele foi sozinha comprar a televisão, que Bernardo foi dormir na casa de um amigo da escola e que Boldrini estava no trabalho. Para matar o menino, teriam sido usadas doses de midazolam e aplicada uma injeção.
– Estamos tratando de um médico e uma enfermeira. Eles não matam com arma de fogo – acusou o promotor Vieira.
A Promotoria também argumentou que Boldrini não se empenhou em procurar pelo filho, após o desaparecimento de Bernardo. Em um áudio, o padrinho de Bernardo acusa o pai de estar dormindo em casa enquanto os demais estavam fazendo buscas.
– Que pai dorme às 23h da noite quando o seu filho está sumido? Ele sabia, sim, era tudo fraude. Ele sabia, sim! É tudo orquestrado! – acusou Bonamente.
A promotora Silvia Jappe também criticou a postura de Boldrini. Testemunhas afirmaram que o garoto não tinha roupas adequadas, não recebia lanches e perambulava pela vizinhança em busca de afeto e atenção. A promotora ressaltou o fato de que no depoimento na quarta-feira (13) Boldrini errou a idade que Bernardo teria hoje:
– Ele nem mesmo acertou a idade do filho. O Bernardo não teria feito aniversário. Hoje o Bernardo estaria com 16 anos, a mesma idade do meu filho – disse a promotora Silvia Jappe.
MP afirmou que Boldrini e Graciele tentaram criar imagem negativa de Bernardo para conseguir arregimentar alguém para participar do crime. O promotor acusou Graciele de ter tentado asfixiar Bernardo com travesseiro dentro de casa. Promotor afirmou que a madrasta procurava algum comparsa para que o marido não “precisasse sujar as mãos”.
– Tentaram transformar o Bernardo em uma criança esquizofrênica e maléfica – afirmou Bonamente.
O MP exibiu imagens de uma loja onde Graciele foi comprar uma televisão, logo após a morte de Bernardo, em Frederico Westphalen.
– Esse é o desespero de uma pessoa que matou sem querer o enteado? Esse é o desespero que ela veio aqui, num choro teatral, dizer que o Bernardo tomou o midazolam? É assim que ela age minutos depois, escolhendo a televisão para ela e o marido. Afinal de contas, o estorvo estava eliminado – apontou o promotor Bonamente.
Os quatro réus foram denunciados por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Boldrini ainda responde por falsidade ideológica, por ter comunicado o desaparecimento do filho à polícia. Para a Promotoria, o crime foi cometido por motivação financeira e porque não havia espaço para Bernardo na família formado pelo pai, a madrasta e irmãzinha.
– Ele entendia que o Bernardo seria um estorvo na vida dele. Um estorvo financeiro. Ele teria direito a metade do patrimônio – acusou Bonamente.
O MP também apontou indícios da participação de Evandro no crime. Para a Promotoria, ele foi arregimentado pela irmã para cavar a cova onde seria depositado o corpo do menino. E, por isso, é acusado também do homicídio além da ocultação do cadáver. O MP exibiu um áudio no qual familiares de Evandro tentavam obter um documento que comprovasse que ele estava de férias na data em que foi visto na beira do rio. Ele alegou em depoimento que estava de férias e, por isso, foi pescar. O documento, segundo o MP, nunca foi anexado ao processo.
– O Evandro não tem justificativa para estar na beira do rio naquele dia – acusou Vieira.