Terceira ré a ser interrogada no julgamento do caso Bernardo, Edelvânia Wirganovicz começou o depoimento chorando e dizendo à juíza Sucilene Engler que os fatos relacionados à execução do crime não são verdadeiros. E afirmou:
— Não matei o Bernardo.
Pouco antes das 12h30min, quando a juíza passava a palavra à acusação, Edelvânia passou mal e caiu da cadeira (veja acima). A sessão foi suspensa para ela receber atendimento médico.
No começo da sessão, como a ré chorava muito, a juíza passou a detalhar os fatos para ela responder. Na qualificação, Edelvânia disse ser assistente social. Na época do crime, no entanto, o Conselho Regional de Serviço Social emitiu nota esclarecendo que ela não está habilitada para exercer tal profissão.
A ré disse que a amiga Graciele Ugulini não gostava de Bernardo e dizia que ele era rebelde e temia que machucasse a irmã. Sobre o dia 2 de abril de 2014, quando as duas teriam comprado pá, soda cáustica e o medicamento Midazolam, ela disse que Graciele foi a Frederico Westphalen para encontrar um amante. Mas teria havido um imprevisto e o encontro não ocorreu.
Segundo Edelvânia, as duas foram passear em lojas e estiveram na farmácia para comprar Midazolam. Depois, ela pediu para parar o carro em ferragem para comprar pá e cavadeira, que ela pretendia usar para consertar uma estrada nas proximidades da casa dos pais. A ré negou ter comprado soda cáustica.
Graciele teria retornado na sexta-feira, 4 de abril, dia da morte de Bernardo, para o encontro com o amante. Edelvânia disse que Bernardo quis ir junto na viagem e que a madrasta deu medicamentos para acalmar o menino. A ré contou que o combinado era que ela ficaria na praça com Bernardo para a madrasta ter o encontro amoroso. Mas o menino teria "surtado", nas palavras de Edelvânia, o que fez Graciele dar mais medicação para ele. Depois, teriam ido andar de carro para ele se acalmar.
Ao ver que o menino estaria desmaiado no banco de trás, Edelvânia teria pedido para socorrer o menino. Ao perceber que estava morto, Edelvânia teria pedido para ir à polícia, mas disse que foi ameaçada:
— Ela disse que ia sobrar tudo para mim, que eu era pobre e ela tinha dinheiro. Ameaçou minha família. Me pediu para enterrar o menino.
Na mesma linha do que Graciele falou em depoimento, Edelvânia disse que pegou o macaco do carro e a chave de roda para cavar o buraco.
— Fui desviando da raiz da árvore e fiz a cova. Eu fiz a cova. Trabalhei na lavoura até 17 anos. Eu tenho força. Eu que fiz a cova e colocaram a culpa no meu irmão. Meu irmão é inocente, não tenho envolvimento nenhum. Se quiserem me levar lá hoje, faço uma cova até mais funda.
Edelvânia confirmou ter ido a Três Passos na semana seguinte ao crime para dizer a Graciele que contaria tudo à polícia. Disse que a delegada pediu ajuda com o que ela soubesse, quando aceitou levar a polícia no local onde estava o corpo, em Frederico Westphalen.
— Me levaram para a delegacia, estava três dias sem comer, estava chapada de tanto remédio. Fui coagida e ameaçada. Colocaram uma arma sobre a mesa. Elas disseram que, como eu tinha ajudado elas a achar o corpo, que eu devia falar tudo que nem cadeia eu ia pegar – disse.
Edelvânia afirmou que policiais ditavam a ela o que ela deveria dizer no depoimento:
— A delegada queria o Leandro Boldrini, como não conseguiu prender pela morte da (ex-) mulher (Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, que cometeu suicídio em 2010), queria prender naquele momento. E queria mídia.
Contatada por GaúchaZH, a delegada Caroline Bamberg Machado disse que só vai se manifestar sobre este relato da ré quando o julgamento terminar. Durante fala do promotor Bruno Bonamente, ele alegou que “a delegada não tinha como coagi-la a falar algo que nem ela sabia”.
A juíza questionou como as delegadas saberiam informações como, por exemplo, de que havia uma amiga na casa de Edelvânia — mulher de um delegado — quando Graciele chegou lá durante o planejamento do crime. Sucilene quis saber como policiais saberiam disso para ditar no depoimento. Edelvânia chorou e disse que não lembrava. Ao falar dos sobrinhos, disse que jamais faria mal a uma criança.
Edelvânia disse que não pode ter advogado em seu depoimento, relatando que disse a verdade apenas em 2015, em entrevista a Zero Hora, na qual mudou sua versão e alegou que a morte não foi premeditada. E voltou a defender o irmão, acusado de ter aberto a cova para enterrar Bernardo dias antes do crime.
— O Evandro é inocente, ele foi lá pescar, estava feliz com o nascimento da filha.
Edelvânia negou ter recebido valores de Graciele. Disse que os R$ 6 mil usados para pagar parcela de um financiamento de apartamento eram de economias dela. Afirmou que Graciele só ofereceu dinheiro para que ela não contasse onde estava o corpo.
Quando a juíza daria início aos questionamentos dos promotores, Edelvânia passou mal e desmaiou de seu assento. A sessão foi interrompida, e o advogado de Edelvânia, Gustavo Nagelstein, afirmou que a cliente não teria mais condições de prosseguir com o interrogatório.