Em 14 de abril de 2014, na Delegacia Regional de Três Passos, já era noite quando Caroline Bamberg Machado deu voz de prisão a Leandro Boldrini e Graciele Ugulini. Naquele mesmo dia, o corpo de Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, havia sido encontrado, enterrado em cova rasa no interior de Frederico Westphalen. O pai e a madrasta se tornaram suspeitos do crime, ao lado dos irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz.
Nesta segunda-feira (11), quase cinco anos depois, o depoimento da delegada foi o centro do primeiro dia do julgamento pelo assassinato do menino, no município da Região Noroeste. Por quatro horas, esmiuçou detalhes da investigação e respondeu questionamentos do Ministério Público e das defesas.
A primeira parte da fala de Caroline foi como rever um filme do passo a passo da investigação que levou os quatro réus à prisão. Convicta em suas respostas à Promotoria, a delegada discorreu sobre como desvendou a morte do menino.
— Bernardo sofria descaso em grau máximo — atestou a delegada.
A testemunha de acusação primeiro foi questionada pela juíza Sucilene Engler, na sessão iniciada pouco depois das 12h30min. Logo após entrar no salão do júri, Edelvânia chorou mais de uma vez. Os outros réus não choraram. Graciele chegou a sorrir em alguns momentos. Edelvânia e o irmão Evandro passaram a maior parte do tempo com os braços cruzados.
Durante os intervalos, a madrasta de Bernardo tomou café, conversou com advogado e seguranças. Ela balançou a cabeça negativamente quando a delegada afirmou que Bernardo era impedido de brincar com a irmã.
O médico e pai conversou com frequência com os advogados, mas em boa parte do tempo permaneceu com os olhos fixos no chão.
Caroline contou das primeiras suspeitas, de que a polícia trabalhava com três hipóteses: sequestro, que Bernardo tivesse fugido por vontade própria ou homicídio. Revelou que, a partir de depoimentos, especialmente de funcionários da escola de Bernardo, percebeu que ele poderia ter sido vítima da própria família.
Também disse que a madrasta de Bernardo, Graciele, só falou da amiga Edelvânia quando a polícia informou que iria a Frederico Westphalen procurar imagens para saber que roupa Bernardo usava quando desapareceu. A história da madrasta era de que tinha ido a Frederico com Bernardo comprar uma TV. A polícia procurou imagens na loja.
Ao investigar Edelvânia, descobriram contradições e ela acabou confessando e revelando o local onde estava o corpo. Quando Caroline contou que Leandro Boldrini, ao saber do encontro do corpo, apenas falou que “queria provas de que estava metido nisso”, o pai de Bernardo reagiu ao lado do advogado, na sala do júri, balançou a cabeça e tomou água.
— Ele queria saber provas da participação dele (no crime). A gente falou que o corpo foi encontrado com soda, ele não esboçou reação nenhuma. Só estava preocupado com ele —afirmou a delegada.
Caroline foi questionada pelo promotor Bruno Bonamente e disse que sinais de frieza por parte de Boldrini chamaram atenção durante a investigação. A delegada afirmou que ele retomou o trabalho e havia relatos de que parecia mais feliz do que o normal. A partir de testemunhos, a polícia montou o quebra-cabeça da vida de Bernardo e descobriu que o menino era negligenciado.
— Eles queriam passar a imagem de uma família perfeita — disse Caroline.
Também foi descoberto que Graciele já falara a outras pessoas sobre a ideia de se livrar de Bernardo. Depois das prisões, mais detalhes foram sendo revelados. A delegada discorreu sobre combinações entre familiares para que Graciele livrasse o marido do envolvimento na morte, por exemplo.
A policial pontuou detalhes que a levaram a ter certeza de que o médico sabia e participou do plano para matar o filho, entre eles, o fato de ter comentado entre colegas de trabalho que Graciele iria comprar uma TV para Bernardo em Frederico Westphalen. Para a delegada, seria a tentativa de criar antecipadamente um álibi.
— Ele (Boldrini) sabia que o Bernardo estava morto — concluiu.
Depois, a delegada regional, Cristiane de Moura e Silva Braucks, falou por duas horas:
— Um menino carente, que pedia abraços — concluiu sobre a relação do menino com o pai.