Após ser questionada pelo Ministério Público, a delegada Caroline Bamberg Machado, responsável pela investigação da morte de Bernardo Uglione Boldrini, passou a responder às defesas dos quatro réus. Desde o início do julgamento em Três Passos, esses foram os momentos de maior tensão. Os advogados confrontaram o depoimento da policial com trechos do processo.
O primeiro a questionar a delegada foi Rodrigo Grecellé, advogado de Leandro Boldrini. Ele perguntou se a delegada entendia que o médico odiava o filho.
— Ele tinha um desamor muito grande — respondeu Caroline.
Parte das perguntas dos advogados de defesa de Boldrini teve como foco a audiência realizada na Justiça em 11 de fevereiro de 2014, após Bernardo ir ao Fórum reclamar da falta de afeto do pai e brigas com a madrasta.
A defesa de Boldrini também questionou a delegada sobre comportamento do pai nos dias em que Bernardo estava fora de casa. O advogado Ezequiel Vetoretti afirmou que Boldrini tinha hábito de ligar para o filho nos fins de semana em que ele estava na casa de colegas. Ele também disse que uma testemunha ouvida relatou que Boldrini estava quieto e sério ao chegar em consultório após sumiço de Bernardo.
— A senhora recorda desse depoimento? — questionou.
Caroline disse que não recorda de todas testemunhas ouvidas no inquérito.
O advogado Vanderlei Pompeo de Mattos, que defende Graciele, questionou o fato do caso ter sido exposto na imprensa, alegando que poderia ter sido mantido sigilo da investigação. Caroline respondeu que o caso gerou clamor e que explicações precisavam ser dadas sobre o crime.
Em tom de voz alta, o advogado Jean de Menezes Severo questionou o fato da cliente não ter tido a confissão acompanhada por advogado. O depoimento de Edelvânia, que permitiu à polícia localizar o corpo de Bernardo, foi gravado. Caroline afirmou que Edelvânia não quis acionar advogado naquele momento.
— Nós temos praticamente todas as provas de onde estava corpo e como foi o crime, com base na confissão da Edelvânia — concordou a delegada Caroline, ao ser perguntada pelo advogado sobre a importância da confissão para a investigação.
— Chorei lendo esse processo. Chorei pela injustiça que está sendo feita com a minha cliente e o irmão dela — disse Severo.
A defesa de Edelvânia sustentou que a pá, que teria sido comprada pela ré, não teria sido usada para cavar a cova, já que estava com selo de fabricação. Eles apontaram a perícia que indica que a ferramenta era nova.
— Não foi usada a pá. Então foi o espírito santo? O castelo de areia do MP está caindo com as perguntas — rebateu o advogado, em momento de tensão com a Promotoria.
Quando Severo elevou o tom com a delegada, a juíza Sucilene interrompeu:
— O senhor trate com urbanidade a testemunha. Na minha sessão o senhor não vai desconstruir a delegada — repreendeu a magistrada.
O advogado Luiz Geraldo Gomes dos Santos, que defende Evandro, questionou a delegada se ela teve em algum momento dúvidas sobre a participação de Evandro. Diante da negativa da delegada, ele seguiu os questionamentos:
— Vamos elementos: quem comprou a soda?
— A Graciele e Edelvânia — respondeu Caroline.
— Quem levou as ferramentas? — questionou a defesa.
— A Edelvânia — concordou.
— Quem levou carro para lavar?
— Edelvânia.
— A senhora cavaria aquele buraco? — perguntou o advogado.
— Acho que sim — respondeu Caroline.
— A senhora conseguiu apurar que o Evandro sabia que Bernardo seria morto?
— Não — respondeu a delegada.
Ao fim do depoimento da policial, enquanto aguardavam para ouvir a delegada Cristiane de Moura e Silva Braucks, Edelvânia virou-se para trás e falou com os advogados do irmão.
— Eu ouvi vocês dois. Vai ser um belo trabalho.