A primeira parte do depoimento da delegada Caroline Bamberg Machado na sessão de julgamento da morte de Bernardo Uglione Boldrini foi como rever um filme do passo a passo da investigação que levou os quatro réus à prisão.
Firme em suas respostas ao Ministério Público, a delegada esmiuçou detalhes de como desvendou o crime e atestou:
— Bernardo sofria descaso em grau máximo.
A testemunha de acusação primeiro foi questionada pela juíza Sucilene Engler, na sessão iniciada pouco depois das 12h30min. Logo depois de entrar no salão do júri a ré Edelvânia Wirganovicz chorou mais de uma vez. Ela e o irmão Evandro passaram a maior parte do tempo com os braços cruzados. Já Leandro Boldrini e Graciele Ugulini pareciam mais à vontade.
Caroline contou das primeiras suspeitas, de que a polícia trabalhava com três hipóteses: sequestro, que Bernardo tivesse fugido por vontade própria ou homicídio. Revelou que a partir de depoimentos, especialmente de funcionários da escola de Bernardo, percebeu que o menino poderia ter sido vítima da própria família.
Também disse que a madrasta de Bernardo, Graciele, só falou da amiga Edelvânia quando a polícia informou que iria a Frederico Westphalen procurar imagens para saber que roupa Bernardo usava quando desapareceu. A história da madrasta era de que tinha ido a Frederico com Bernardo comprar uma TV. A polícia procurou imagens na loja. Ao investigar Edelvânia, descobriu contradições e a mulher acabou confessando e revelando o local onde estava o corpo.
Quando Caroline contou que Leandro Boldrini, ao saber do encontro do corpo, apenas falou que "queria provas de que estava metido nisso", o pai de Bernardo reagiu ao lado do advogado, na sala do júri, balançou a cabeça e tomou água.
Depois, a delegada foi questionada pelo promotor Bruno Bonamente, que começou elogiando o trabalho de investigação. Caroline contou dos sinais de frieza por parte de Boldrini que chamaram a atenção durante o trabalho. Disse que ele retomou o trabalho e havia relatos de que parecia mais feliz do que o normal. A partir de testemunhos, a polícia montou o quebra-cabeças da vida de Bernardo e descobriu que o menino era negligenciado. Também foi descoberto que Graciele já falara a outras pessoas sobre a ideia de se "livrar" de Bernardo.
Depois das prisões, mais detalhes foram sendo revelados. A delegada discorreu sobre combinações entre familiares para que Graciele livrasse Boldrini de envolvimento na morte, por exemplo.
E pontuou detalhes que a levaram a ter certeza de que o médico sabia e participou do plano para matar o filho, entre eles, o fato de ter comentado entre colegas de trabalho que Graciele iria comprar uma TV para Bernardo em Frederico Westphalen. Seria a tentativa de criar antecipadamente um álibi. Os questionamentos do MP se encerraram às 15h, quando então os advogados de defesa passaram a fazer as perguntas.