Um catador recolhia materiais recicláveis na Rua Porto das Tranqueiras, estrada de chão que costuma ser usada como depósito de lixo, em Novo Hamburgo, quando deparou com um tronco humano em um saco plástico azul em setembro de 2017. Era o início de um mistério que completa um ano nesta terça-feira (4). A Polícia Civil tenta até hoje desvendar quem são as duas crianças esquartejadas no bairro Lomba Grande. E, mais, quem cometeu o crime bárbaro.
A poucos metros de onde o catador localizou o saco, dentro de duas caixas de papelão, embalados em plásticos idênticos, estavam outras partes de dois cadáveres. Duas semanas após o encontro dos corpos, novas partes foram encontradas a cerca de 500 metros do primeiro local.
Inicialmente a suspeita é de que fosse o corpo de uma mulher e um menino, mas a perícia apontou que, na verdade, eram duas crianças. As cabeças seguem desaparecidas. Com elas, seria possível tentar reconstituir a face das vítimas. Os corpos não foram sepultados e eguem congelados.
No início de janeiro, a investigação, que tinha sido comandada pelo delegado Moacir Fermino Bernardo (agora afastado do cargo), foi desfeita pela própria corporação. Fermino, o policial civil Marcelo Cassanta e um informante, Paulo Sérgio Lehmen, viraram réus por falsidade ideológica e corrupção de testemunhas.
Confira sete perguntas e respostas sobre o caso:
1 - Quando ocorreu o crime?
Como os corpos não estavam em decomposição, nem apresentavam cheiro forte, a polícia suspeita que o crime tenha ocorrido dias ou até mesmo horas antes da localização. A análise do local indica que só foi usado para descarte dos corpos. Não havia manchas de sangue no matagal.
2 - Qual o perfil das vítimas?
O menino tem idade aproximada de oito anos e a menina de 12 anos. Não significa que essa seja a idade exata. A garota tinha unhas pintadas de rosa e o garoto pedaços de roupas que podem ser de uma camiseta vermelha. A cor da pele é branca, mas estava bronzeada de sol.
3 - Qual o parentesco entre elas?
A resposta chegou três semanas após a localização dos corpos. A perícia apontou que os dois têm material genético compatível pelo lado materno. Podem ser irmãos, por parte de mãe, com pais diferentes. Mas também podem ser primos ou tia e sobrinho, por exemplo.
4 - As crianças podem ser estrangeiras?
Podem ser, como podem não ser. A polícia não descarta nenhuma possibilidade. A informação de que os menores seriam da Argentina surgiu em meio às falsas versões que levaram à prisão de sete pessoas, que depois acabaram soltas após a Polícia Civil desfazer a própria investigação. No país vizinho, não foi encontrado registro de digitais ou de desaparecimentos com essas características.
5 - As vítimas estavam alcoolizadas?
No corpo do menino, havia 15 decigramas de álcool por litro de sangue, o que indica que pode ter sido embriagado antes do crime. No da garota, não foi possível confirmar a presença de álcool.
6 - Por que não há registro do desaparecimento?
Este é um dos pontos que mais intriga a polícia. "Por que ninguém reclamou a falta das crianças?" Quase um ano depois, os policiais suspeitam que a mãe ou pai, ou mesmo os dois, possam também estar mortos.
7 - Como DNA pode auxiliar na identificação das vítimas?
O DNA é a principal pista que a polícia tem para tentar montar o quebra-cabeça. O material auxiliou a descartar vinculação com outros crimes, como de duas mulheres encontradas mortas, uma carbonizada em Campo Bom e outra esquartejada em Caxias do Sul. Em novembro, dois crânios foram encontrados em São Leopoldo. A perícia apontou que eram cabeças de pessoas idosas, sem vinculação com os menores.