Seguindo as decisões de pelo menos 30 municípios gaúchos que já desobrigam o uso de máscaras em ambientes fechados — Lajeado, Carlos Barbosa e Bagé são alguns exemplos —, Porto Alegre também dispensou a obrigatoriedade do apetrecho de proteção contra o coronavírus. As exceções ficam para o transporte coletivo e estabelecimentos de saúde, onde a exigência está mantida. O novo decreto deve ser publicado ainda nesta sexta-feira (18) e valer de imediato.
No Rio Grande do Sul, o uso de máscara em ambientes abertos já está flexibilizado desde a noite de quarta-feira (16). A capital gaúcha desobrigou as máscaras ao ar livre ainda antes, na sexta-feira (11).
Diante desta nova liberação, médicos infectologistas ouvidos por GZH destacam que, mesmo que não obrigatória, a máscara ainda é fortemente recomendada pela ciência nos ambientes fechados, já que são locais em que o ar circula menos e que a transmissão do vírus é favorecida. O cuidado precisa ser redobrado em lugares repletos de pessoas e com poucas janelas e ventilação.
— Em fases de transição como essa, há uma individualização das recomendações. As pessoas precisam conseguir identificar o que são locais de maior ou menor risco para fazerem sua decisão individual pela sua saúde – afirma Paulo Ernesto Gewehr, infectologista do Hospital Moinhos de Vento.
– Facultar o uso de máscara não quer dizer que o risco é zero. Ambientes não ventilados, como, por exemplo, o transporte público, ainda mais quando chegar o inverno e as pessoas começarem a fechar as janelas para um maior conforto térmico, são de alto perigo. Neste ambiente, as pessoas deveriam sempre estar de máscara, principalmente se forem de grupo de risco — destaca.
Gewehr lembra ainda que estádios e arquibancadas em geral, mesmo que sejam espaços abertos, também representam alto risco de contaminação, pois concentram grande número de pessoas, portanto, devem ser ocupados por indivíduos de máscara.
Como a responsabilidade de se proteger contra o coronavírus está ainda mais nas mãos de cada um, o infectologista André Luiz Machado, do Hospital Conceição de Porto Alegre, faz o apelo para que as pessoas encarem esse momento com cautela, prezando pela saúde coletiva.
— As pessoas deveriam continuar a usar máscara no transporte público, em ambiente hospitalar ou em unidades de atendimento à saúde e em qualquer ambiente fechado com alta densidade de pessoas circulando, como shopping centers e supermercados. Sabemos que os indivíduos estão loucos pra se livrar da máscara, mas precisam ao menos ter consciência e espírito coletivo de usar máscara caso apresentarem qualquer sintoma respiratório — afirma André.
Cenário mais seguro para flexibilizar
O médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), aponta que é inevitável que se façam tentativas de dispensar o uso da máscara em todos os ambientes, mas pondera que a desobrigação nos lugares abertos ocorreu há poucos dias, de forma que seria mais cauteloso esperar mais algumas semanas para observar como os índices se comportarão diante dessa primeira mudança. Só então se deveria pensar na liberação em ambientes fechados. Para ele, o cenário ideal para uma flexibilização menos arriscada seria outro:
— Em algum momento a gente tem que tentar flexibilizar, mas talvez o melhor seria se fosse daqui a algumas semanas. Um contexto melhor pra flexibilizar seria com um número menor de casos novos e uma cobertura vacinal maior, além da disponibilização de antivirais. Uma diferença importante que há, quando nos comparamos com Europa, Inglaterra, Estados Unidos, é que lá já está disponível medicamentos antivirais como o molnupiravir que previnem a evolução da doença para formas mais graves. São remédios utilizados de forma ambulatorial, em comprimidos que as pessoas tomam no início dos sintomas. Aqui no Brasil, nós não temos — afirma Sprinz.
De forma semelhante, o André Luiz Machado entende que foi acertada a liberação do uso de máscara em espaços abertos no atual cenário da pandemia no Estado, mas defende que os governantes deveriam aguardar pelo menos de quatro a seis semanas antes de instituir novo afrouxamento de regras. Esse período permitiria avaliar os efeitos da primeira flexibilização, o comportamento e a transmissibilidade de novas cepas que estão surgindo no Hemisfério Norte e otimizar a vacinação de crianças e a dose de reforço dos adultos.
— Também daria tempo de avaliarmos melhor o impacto da Ômicron na nossa comunidade, isso porque tivemos várias pessoas que adoeceram nos últimos meses. Sabe-se que a doença traz imunidade ativa, as pessoas ficam protegidas, mas quão protegidas? Por quanto tempo? Acho que mais quatro a seis semanas dariam um dado um pouco mais concreto a respeito disso também — afirma André.
A epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), afirma que gestores deveriam informar indicadores a serem atingidos para que o uso da máscara seja novamente requisitado. Ela lembra que diversos países já enfrentam nova onda da covid-19 após revogarem todas as medidas de combate à pandemia.
— É momento de cautela, a pandemia continua. Vemos aumento em alguns países, principalmente Ásia e Europa, e esse aumento pode se refletir no nosso outono-inverno — afirma Ethel Maciel, epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).